terça-feira, 29 de outubro de 2019

Resenha Ginástica artística e estatura: mitos e verdades na sociedade brasileira




FERREIRA FILHO, R. A.; NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. Ginástica artística e estatura: mitos e verdades na sociedade brasileira. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 2006

Os autores do artigo possuem graduação em Educação Físicaou em Esportes no caso Mariana Harumi Cruz Tsukamoto, mas todos tem algum tipo de pós graduação na área de esportes, Mariana Harumi Cruz Tsukamoto tem doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo - Escola de Educação Física e Esporte (2012). Atualmente é professora doutora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades - Universidade de São Paulo ela tem experiência na área de Educação Física e Esporte, atuando principalmente nos seguintes temas: pedagogia do esporte, formação em educação física e esporte e ginástica, já Raul Alves Ferreira Filho tem mestrado em Educação Física pela Universidade de São Paulo (2007). Atualmente está aposentado. Foi professor titular do Instituto Presbiteriano Mackenzie Fef até Junho de 2013.Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Ginástica Olímpica, atuando principalmente nos seguintes temas: educação física, ginástica artística, competição, crescimento, estatura e educação física escolar e MyrianNunomura tem mestrado em Educação pela Yokohama NationalUniversity, Japão (1995). Doutorado em Ciências do Esporte pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Pós-doutoramento no Instituteof Health and Sports Sciences da UniversityofTsukuba, Japão (2006-2008). Livre docência em Educação Física pela Universidade de São Paulo (2009). Atualmente é professora Titular da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Desenvolve estudos em Ginástica Artística e Pedagogia do Esporte, Todos os três tem grande vivência no tema e são capacitados para discursar sobre o assunto.
            O artigo é divido em seções onde os autores tentam exemplificar e demostrar os aspectos dos mitos e verdades sobre as características físicas dos atletas de Ginastica Artística, na primeira seção eles começam com um introdução sobre o assunto criando uma hipótese onde o trabalho será baseado, “se a baixa estatura dos ginastas estaria diretamente associada aos treinos intensivos da modalidade”, levando em consideração estudos auxologicos, que eles definem como “Estudos relacionados ao crescimento humano”, na segunda seção eles definem as características da ginastica artística feminina, onde citam outros autores querendo demonstrar que “medidas menores das ginastas de alto nível, favorecem a realização de acrobacias mais complexas, principalmente as rotações no eixo transversal e suas variações”, já na terceira seção os autores definem o que seria o alto rendimento da GA, demonstram onde e como ocorrem as competições, citam também alguns eventos onde crianças participam e dão ênfase aos anos de dedicação e trabalho duro que necessita para se chegar ao pódio, também contrastam alguns atletas que estão fora dos padrões de biótipos que conquistaram vários títulos, e chegam a conclusão que em competições de alto nível o biótipo do atleta pode sim fazer grande diferença pois devido a grande competitividade a facilidade corporal pode decidir as competições.


O autor do texto inicia fazendo sua definição de Ginástica Geral, traçando um comparativo da ginástica praticada no Brasil e na Europa, definindo o campo da Ginástica Geral no Brasil e demarcando os possíveis praticantes das Gymnaestradas, O autor expõe alguns elementos como a classe econômica dos participantes de praticas esportivo-recreativas no Brasil que mesmo com o passar do tempo (o texto foi publicado em 2008) ainda tendem a continuar vigentes na nossa sociedade, logo após o autor faz criticas sobre a postura da CBG nos critérios de participação nos Gymnaestradas, sendo que para o autor deveria ser incluído os fatores pedagógicos da participação, essa reflexão faz muito sentido quando o autor começa a fazer um comparativo dos técnicos envolvidos em festival e o papel do professor de educação física nesse cenário, que deveria ser ampliado para que o processo de ensino-aprendizagem esteja inserido nas apresentações dos eventos de ginástica geral.
Chegar a uma definição sobre o que é ginástica geral não tem sido fácil, pois os parâmetros apontados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) para participar da Gymnaestradas Mundial foram considerados como uma definição de GG.
O autor também define de forma clara os espaços utilizados na Ginástica Geral com sentido pedagógico, colocando o foco para a escola. Nas definições de conteúdos de cultura corporal ele define cada área possível de ser utilizada na Ginástica Geral com orientação pedagógica, seguindo pelas vertentes da ginástica, jogos, brincadeiras e fazendo algumas observações para esportes e lutas, onde precisam se uma flexibilização para que não tenham caráter competitivo. O autor define também outros elementos da Ginástica Geral como Danças, Elementos de Artes Musicais, Elementos das Artes Cênicas e Elementos das Artes Plásticas, no meu entendimento o autor cria uma espécie de manual para se utilizar da Ginástica Geral com sentido pedagógico e relacionando com outros autores, acho que o texto fica um pouco fixo demais. Observo que devemos dar mais liberdade a GG principalmente no ambiente escolar.
Gymnaestrada Mundial é um evento realizado de quatro em quatro anos na Europa, onde participam profissionais que trabalham com manifestações de elementos considerados componentes da Educação Física. Por esse motivo a Federação Internacional de Ginástica (FIG) unifica atividades variadas, como se pode constatar no livro História da Ginástica no Brasil e no Regulamento para Participação na 12ªGymnaestrada Mundial do Comitê Técnico da Confederação Brasileira de Ginástica (2002) direcionada aos participantes da XII Gymnaestrada Mundial de 2003 em Lisboa. Neste regulamento a Ginástica Geral (GG) é compreendida por diversas atividades físicas voltadas para lazer, manifestações corporais no contexto de cultura nacional. A GG engloba modalidades competitivas reconhecidas pela FIG, à dança, atividades acrobáticas e expressões folclóricas de ambos os sexos, sem limite de participantes buscando desenvolver saúde, bem estar geral e interação social.
Ao analisarmos essa proposta podemos perceber que a Educação Física na Europa é diferente da na América Latina. A Educação Física na Europa possui uma parte onde o esporte é seu principal conteúdo com foco na competição, principalmente para a população infanto-juvenil. Por outro lado a população adulta pratica atividades artístico-recreativas voltadas para saúde devido a políticas públicas de incentivo e fornecimento de infra-estrutura necessária para as atividades. Dessa forma compreende-se a quantidade de participação em clubes, centros recreativos e instituições educativas o que leva a diversidade de práticas esportivas, artísticas e recreativas, esse público é que o participa das Gymnaestrada.
A Educação Física no Brasil tem foco mais educacional, onde o professor tem como objetivo colocar o aluno em contato com conhecimentos sobre a cultura corporal do movimento, orientar formação do cidadãoe não atleta como na Europa.  A maior parte da população pratica esporte-recreativasesporadicamente e sem orientação técnica. Outra parte da população com mais recursos econômicos pratica em clubes ou academias com orientação para competição. Os participantes de eventos de GG são as instituições de competições que se adaptam as normas estabelecidas pela CBG, e também academias de dança e arte utilizam desse espaço muitas vezes por não terem nível suficiente para participação de eventos de sua especialidade. Há uma diferença entre a Europa e o Brasil na questão na participação na Gymnaestradas onde aqui no Brasil os trabalhos para esse evento são esporádicos e para os europeus é permanente.
A Gymnaestradas é composta por demonstrações artísticas de atividades culturais caracterizado pela mistura de profissionais, de participantes e de culturas, portanto possui interpretações variadas e criativas. O que se nota é que algumas definições colocadas pela CBG não podem ser tomadas como referência para se definir a GG com sentido pedagógico uma vez que ela apenas define que a GG contribuinte para saúde e bem estar físico e psíquico. Com a diversidade de profissionais na participação dos eventos de GG proposto pela CBG, há uma grande heterogeneidade de trabalhos,como já se é esperado cada técnico apresentam trabalhos que correspondem a sua atuação profissional.
Os professores de Educação Física com licenciatura são capacitados para pesquisar, analisar, sistematizar e aplicar a produção de cultura corporal no contexto escolar e comunitário, sendo assim se ele participar de uma Gymnaestrada espera se que seu trabalho reflita o processo pedagógico e uma visão diferente sobre GG comparado aos profissionais de dança e teatro por exemplo.Dessa forma se fez necessário criar um conceito de GG com sentido pedagógicodefinindo a como espaço de vivência de valores humanos que possibilita a apropriação dos elementos da cultura corporal de relevância pelo grupo social com o objetivo de aumentar recursos motores que permitam interagir com as pessoas que fazem parte da comunidade local.
O autor apresenta três formas de aplicar os conhecimentos no âmbito escolar, onde cada uma envolve um objetivo diferente. São elas; a vivência que tem objetivo de colocar os alunos em contato com cultura corporal; a prática que tem como objetivo facilitar a aprendizagem de forma que os alunos consigam dominar e estabilizar as técnicas de execução, e o treino que tem como objetivo que os alunos internalizem as técnicas de uma modalidade cultura corporal. O autor apresenta os conteúdos da cultura corporal que fazem parte da Educação Física, são eles conteúdos de Ginástica construída, natural, competitivas, geral, além de outras composições que estão dentro da GG como jogos e brincadeiras, lutas, esportes.  Além desses conteúdos, ele também apresenta elementos de alguns conteúdos que devem ser aplicados que são compartilhadas com outras áreas do conhecimento como a Dança, Artes Cênicas e a Artes Plásticas.
Conforme concluído pelo autor é de responsabilidade a apropriação de todos os conteúdos de cultura corporal que dizem respeito à Educação Física para os alunos, não se deve apenas aplicar alguns como tem acontecido em muitas aulas de Educação Física. A GG é de extrema importância no contexto escolar, segundo(AYOUB, 2003) apreender a GG geral na escola significa
“estudar, vivenciar, conhecer, compreender, perceber, confrontar, interpretar, problematizar, compartilhar, apreender as inúmeras interpretações da ginástica para, com base nesse aprendizado, buscar novos significados e criar novas possibilidades de expressão gímnica”.

Ela também coloca que a GG tem sido compreendida como uma ginástica para todos, voltada para o lazer que visa estimular o prazer pela prática da ginástica com criatividade e liberdade de expressão, tornando um espaço viável para a vivência da cultura corporal. Essas idéias batem com a proposta do autor uma vez que ele coloca que GG no contexto pedagógico deve envolver também a comunidade ao seu redor e ter uma abordagem sociocultural.
O texto é um manual muito bem feito para professores de Educação Física aplicarem métodos de Ginástica Geral na escola, o autor tem grande domínio sobre o assunto e nos indica como seguir  no desenvolvimento da Ginástica Geral dentro da escola, mas ao meu ver o texto não se adapta tão bem a todas as realidades da nossa sociedade atual principalmente em comunidades remotas ou de baixo poder aquisitivo, no meu entendimento da ginástica geral deve ser mais para socializar e integrar os alunos que para criar apresentações bonitas, A GG pode proporcionar, além do divertimento e satisfação provocada pela própria atividade (na medida em que busca o resgate do núcleo primordial da ginástica – o divertimento), o desenvolvimento da criatividade, da ludicidade e da participação, a apreensão pelos alunos das inúmeras interpretações da ginástica, e a busca de novos significados e possibilidades de expressão gímnica (AYOUB, 2003) a grande maioria das nossas escolas não tem condições de criar eventos e os alunos mal conseguem acompanhar os conteúdos mais simples. Para Daolio (2002), é um equívoco imaginar que todas as escolas devam trabalhar com um mesmo currículo fechado e inflexível, desconsiderando o contexto no qual estão inseridas. Por isso o autor não concorda com a sistematização de conteúdos na Educação Física, nos mesmos moldes das outras disciplinas, Daolio (2002)defende a necessidade de planejamentos quando estes são tomados como referência, e não como verdade absoluta; atualizados constantemente, construídos e debatidos com os próprios alunos, relacionados com o projeto escolar. Então a Ginástica Geral é sim uma excelente possibilidade para socializar e integrar os alunos, criando uma alternativa a pratica de esportes como futebol e vôlei, tão presentes na nossa cultura escolar criando uma maior pluralidade de atividades físicas no ambiente escolar.




REFERÊNCIAS:

CALDERONE, G.; LEGLISE, M.; GIAMPIETRO, M.; BERLUTTI, G. Anthropometricmeasurements, bodycomposition, biologicalmaturationandgrowthpredictions in youngfemalegymnastsof high agonisticlevel. J. Sports Med, v. 26, n.3, p. 263-273, 1986.

BOMPA, T.O. Periodização. Teoria e Metodologia do Treinamento. São Paulo: Phorte, 2002.



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