segunda-feira, 4 de maio de 2020

QUESTIONAMENTOS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES



1)      Os critérios de gestão adotados pelas organizações modernas (qualidade total, excelência operacional e profissional, competências etc) diferem ou não daqueles consagrados pelos teóricos clássicos (Taylor, Fayol, Ford, Mayo e Weber)? Inspirando-se no artigo de Omar Aktouf (Administração e Teorias das Organizações Contemporâneas: Rumo a um Humanismo-Radical Crítico?), aponte 5 elementos que justifiquem a resposta, desenvolvendo os argumentos correspondentes a cada um deles.


Aktouf não descarta totalmente os teóricos clássicos, no meu entendimento, ele faz mais uma releitura deles trazendo para um contexto mais humanístico, trazer essas teorias clássicas para a modernidade não é uma tarefa muito complexa, na verdade essas teorias moldam a administração atual, criando uma conjunção de todas em uma nova roupagem, como na moda o que é vintage sempre volta com força total.
Acredito que a diferença primordial entre as teorias clássica e as organizações modernas se coloca na importância do papel do homem dentro da organização, taylorismo e o fordismo tem um foco na produção em massa, com isso, o empregado se tornou uma peça exclusivamente executora de ordens pré-determinadas, obediente a um plano de trabalho pensado por quem estava a cima da linha de execução. No texto do Aktouf ele quer balancear essa relação trazendo para próximo essa relação entre quem produz e quem comanda, este cenário impulsiona, paradoxalmente, as organizações modernas a realizarem uma gestão diversa, renunciando, de forma relativa, ao poder, aos direitos de propriedade, à gestão unilateral e aos privilégios exclusivos. Isto implica a uma produção organizada e partilhada nos lucros, nas orientações, com maior autonomia e protagonismo do trabalhador, Dentro das organizações o empregado tem papeis diversificados e amplamente definidos, com treinamento em múltiplas competências para que sejam intercambiáveis e possam trabalhar de maneira flexível e orgânica, bem como de forma autogerenciada (Morgan, 2002).
Acho que um ponto que impacta nas organizações modernas e como se obtém e como se utiliza do lucro gerado pela organização, nas teóricas clássicas gera-se uma sede de controle e poder do empregador em face do empregado, através do fator financeiro e social, onde bloqueia a criatividade e a inovação das camadas mais baixas e utilizando da hierarquia e autoridade por meio da burocracia racionalizada e legal, não permitindo espaço de livre pensamento e manifestaçãodo trabalhador (Weber, 2000) esse pensamento afasta o trabalhador de postos mais altos dentro da organização, contribuindo com a desigualdade social e criando uma espécie de preconceito, já nas organizações modernas e seguindo uma vertente mais defendida por Aktouf, os gerentes assumem uma postura de mediadores e facilitadores das atividades executadas pelos empregados, evitando o papel de planejadores para gerenciar limites e condições propícias ao desenvolvimento, mesmo que ainda exista uma grande segregação social acho que a questão da meritocracia tem uma a ser traçada, acho que realmente não existam condições igualitárias, mas algumas coisas já evoluíram. Além disso, por meio da participação nos lucros, os empregados se sentem inseridos no contexto da organização, assumindo vontade de serem cúmplices da mesma, vivendo a mesma como uma extensão real da sua própria vida (Aktouf, 2001), ele também fala que Taylor e Fayol já tinham se deparado com um conflito entre capital e trabalho, onde os empresários estariam dispostos a partilhar lucros da empresa com seus empregados, ponto importante para a mudança das teorias clássicas, uma vez que não basta a mudança cultural do empregado, mas também o capital e a força de trabalho andar na mesma página.
Da escola de relações de humanas, protagonizada por Elton Mayo, houve não só contribuições as teorias e práticas administrativas, mas principalmente no estudo de como as relações sociais determinam a produtividade das empresas, ou seja, a inclusão de um ponto de vista voltado para outros aspectos até então não abordados, como condições ambientais, cooperação e formação de grupos informais, abrindo espaço para uma nova percepção do homem e de seu papel no trabalho. Essa base teórica continua sendo uma referência de grande importância para estudos de relações de trabalho e foi a base para o desenvolvimento da psicologia organizacional, a qual preconiza estudos de extrema relevância na atualidade, principalmente sobre a relação das práticas de gestão organizacionais e os respectivos impactos nos indivíduos. Esse é um ponto bem interessante, a visão do homem com um ser social e econômico, gerador de conflitos, o que não era perceptível a Mayo, mas que deve ser considerada, pois a sua individualidade, sua postura como ser único, possibilita interpelar a condição existente, apontando falhas e criando novas alternativas em uma prática autopensante que se baseia uma ação inteligente (Mogan, 2002).



2)      No entendimento de Prestes Motta, a burocracia vista como o ideal de racionalização do trabalho impede que os indivíduos se insiram na sociedade de acordo com as suas necessidades e o seu bem-estar pessoal, idéia que implica a noção de alienação. Ou seja, na opinião do autor, a burocracia domina completamente o trabalho humano, impedindo o trabalhador expressar as suas singularidades ou usufruir inteiramente o produto do seu trabalho. É possível se emancipar dessa “prisão”? Justifique a resposta tomando por base de sustentação o artigo de José Henrique de Faria e Francis Kanashiro Meneghetti (Burocracia como Organização, Poder e Controle).

Começo dizendo que a burocracia jamais será eliminada, ou seja, mesmo nas organizações modernas ela irá persistir, ela é necessária para o bom funcionamento das organizações, para sua organização e para que as regras sejam definidas e cumpridas, mas o excesso ou o descontrole sobre a burocracia pode causar diversos problemas, (Weber, 2000) fala sobre como através da burocracia o empregado se fecha dentro do processo criativo e participativo dentro da organização, não permitindo espaço de livre pensamento e manifestação do trabalhador.
A dominação se apresenta como um "'estado de coisas' no qual as ações dos dominados aparecem como se estes houvessem adotado como seu o conteúdo da vontade manifesta do dominante" (PRESTES MOTTA, 1981, p. 59). De acordo com Mészáros (2006) Marx apresenta a mais conhecida teorização sobre a alienação, que não parte da burocracia, mas do trabalho. A teoria da alienação do trabalho apresenta a contradição fundamental da produção capitalista de mercadorias, no sentido de que o trabalhador torna-se mais pobre na medida em que produz mais riqueza; torna-se mercadoria tão mais insignificante quanto mais riqueza produz. Dessa forma, enquanto cria valor no mundo das coisas, o mundo da vida dos homens aumenta em razão direta de sua depreciação.
Essa situação somente contribui para o alargamento das desigualdades onde a utilização da burocracia é um instrumento categorizado para separar quem produz de ter condições de alcançar postos de planejamento.
A burocracia deve ser entendida em seu espaço e tempo históricos, onde as empresas e o empregado devem ter conhecimento que diferentes empresas devem se utilizar de diferentes tipos de burocracia.
Tem-se que a empresa humanizada precisa do homem mais autônomo, com menos amarras burocráticas e mais empoderamento para se sentir acolhido na organização e desenvolver seus projetos por meio de sua criatividade, sentidos e desejos (Aktouf, 2001).
Vejo que a melhor solução para essa questão e a criação de medidas tecnológicas para facilitar e deixar o processo tecnológico mais transparente onde todos que fazem parte do processo consigam entender e discutir melhores soluções e conflitos, sugerindo mudanças e atualizações em processos demasiadamente lentos, sistemas de informação e processos digitais, transformam processos em papel obsoletos, onde o rastro do processo sempre será salvo e a informação estará sempre ao alcance de todos, a meu ver a transparência pode ser a melhor forma de quebrar essas correntes e trazer a liberdade para o empregado dentro da organização.

3)        No artigo “Emergência e Proliferação de Redes Organizacionais: Marcando Mudanças no Mundo dos Negócios”, de AlketaPeci, a autora argumenta que as redes organizacionais são cada vez mais necessárias para as organizações alcançarem flexibilidade, integração e eficiência coletiva. Todavia, mudanças de comportamento e valorização crescente do papel do homem dentro da organização são fundamentais para o alcance desses propósitos. Baseando-se na teoria das Redes Organizacionais, que elementos comportamentais (pertinentes ao indivíduo) e de valorização do homem no trabalho (pertinentes à organização) você considera que atenderiam o argumento da autora do artigo? Cite dois elementos para cada uma dessas dimensões, justificando-os.

As redes organizacionais se baseiam em parceria e colaboração envoltas em drástica mudança comportamental gerencial como resposta às crescentes e corriqueiras mudanças ambientais e à necessidade de interdependência entre as organizações.Para se adaptarem às constantes mutações do sistema gerencial e de consumo, as redes implantam uma flexibilidade interna e externa, buscando maior eficiência coletiva, valorizando, assim, o papel do homem dentro da organização.
AlketaPeci aponta que a inovação tecnológica e o elevado grau de incerteza provocado por um ambiente dinâmico e variável causa uma complexidade e um caráter multifacetado das interconexões empresariais, expondo, a seu ver, um caminho de valores significativos para todos os membros da área; existência de relações entre organizações dissimilares, mas cujas sorte são positivamente relacionadas, fortalecendo, assim, a colaboração; e a mudança de noção de planificação estratégia, levando em consideração o interesse dos outros.
A estrutura de uma organização deve ser entendida e analisada em termos de múltiplas redes de relação e, as ações, atitudes e comportamentos dos atores de uma organização decorrem da necessidade de se relacionar.
Já se referindo ao homem, a autora destaca que cada pessoa é importante para o todo, vez que possui um conhecimento tácito único, oriundo de sua experiencia de vida pessoal e profissional, sua formação como cidadão e seus valores, algo inseparável dos projetos e processos que participará.
Neste sentido, a individualidade de cada pessoa, em seu jeito de ser, pensar, sentir e agir, é um elemento comportamental de valorização do ser humano como ser racional singular e, esta singularidade agrega a coletividade, vez que em um planejamento ou execução de projeto não haverá uma homogeneidade de posturas e pensamentos lineares, mas sim uma discussão flexível e aberta sobre o tema de trabalho, em face da aceitação da diversidade no meio empresarial.
Esta receptividade da particularidade de cada ser humano diz respeito a interpessoalidade e a criação e fortalecimento deredes sociais, pois valoriza as pessoas e corrobora com possibilidade de interação no trabalho, fazendo com que o trabalhador se sinta pertencente à organização, como seu cumplice ativo (Aktouf, 2001).
Diante disso, tem-se uma maior integração das pessoas, seja, por meio de grupos formais, seja por meio de grupos pessoais, pois se relacionarão facilitando adaptação à mudançade ambientes complexos, onde se demanda flexibilidade.
A partir desse ponto se constata outros elementos comportamentais importantes para a solução de problemas decorrentes das mudanças e necessário à adaptabilidade em um cenário de rotineiras mudanças. A criatividade é umrequisito indispensável ao homem que, sujeito a alterações ambientais, precisa inovar e se amoldar aos anseios da rede e do mercado.
Repare-se que a criatividade advém da pessoa em si, relacionando-se com a sua individualidade e suas características próprias, mas também se desenvolve por meio do relacionamento com outras pessoas e diferentes formas de criar.
Estes elementos são imprescindíveis à competência de se precipitar transformações intencionais e de responder continuamente às alterações não antecipadas, se adequando às consequências inesperadas de mudanças ocorridas de maneira colaborativa, algo inerente às próprias redes organizacionais.
No que tange valorização do homem no trabalho pertinentes à organização, de plano cita-se a autonomia concedida ao empregado para que possa criar, se relacionar, aprender, desaprender e reaprender (Morgan, 2002).
A autonomia aqui defendida se refere a possibilidade do empregado em se manifestar, expor suas ideias, pensamentos, criações e colaborar com busca de soluções para alguma situação problema vivida pela empresa.
Importante que, neste sentido, o gerente seja um facilitador, um mediador no processo de criação, inovação e desenvolvimento da organização frente as modificações do meio, bem como na gerência de conflitos. Este estilo de liderança favorece a relação social, propicia a postura ativa do empregado e colaboração entre todos, permitindo ainda, que o trabalhador desenvolva suas tarefas de maneira desenvolta e se sinta confiante para dialogar, interagir e conciliar com seus colegas e com o referido gerente, construindo um consenso sobre o trabalho desenvolvido.
Outro elemento diz respeito a comunicação e a troca de informações constantes entre as pessoas, posto que, assim, conseguirão provocar as adaptações necessárias à organização frente a mutação do ambiente. Imprescindível que a comunicação seja não violenta, com um feedback constante, aceitação crítica e crescimento mútuo, vez que, lembrando do respeito a individualidade, se conseguirá melhorais pessoais, profissionais e empresariais.
Importante que haja interação entre as equipes, repassando conhecimento umas para as outras, permitindo a multifuncionalidade do empregado e aquisição de outras competências para atuação na planificação estratégia da ação de maneira coordenada e, conhecida pelas pessoas.
A administração de redes impõe a administração de estruturas flexíveis com o objetivo se alcançar a eficiência coletiva, por meio de gerencias que atuam em parceria com os trabalhadores.

É imprescindível citar que a autora, AlketaPeci, menciona que há necessidade de potencializar o homem no sentido físico, cognitivo, emotivo, profissional social e a integridade em si mesmo, posto que o ser humano está sujeito a diversas situações que afetam seu corpo e mente e não basta lança-lo em uma organização humanizada sem que se estabeleçam condições de melhorar a performance de um sistema sociotécnico e da própria integridade da vida sem que se construam condições conjuntas de força e sanidade física, nível de compreensão e competência, estabilidade emotiva, habilidade profissional e integração social, bem como confiança em si mesmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AKTOUF, O. Administração e Teorias das Organizações Contemporâneas: rumo a um humanismo-radical crítico?.Organizações & Sociedade, v. 8, n. 21, p. 13-33, 2001.

Morgan, Gareth, 1943 Imagens da organização: edição executiva/Gareth Morgan; tradução Geni G. Goldschmidt. - 2. ed. - 4a reimpressão - São Paulo : Atlas, 2002.

Weber, Max, 1864-1920 Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva / Max Weber; tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn - Brasília, DF : Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. 586 p.

FARIA, José Henrique de; MENEGHETTI, Francis Kanashiro. Burocracia como organização, poder e controle. Rev. adm. empres.,  São Paulo ,  v. 51, n. 5, p. 424-439,  Oct.  2011 . 

sábado, 2 de maio de 2020

Gestão nas organizações públicas: modelo alternativo para autonomia



SIQUEIRA, M. V. S.; MENDES, A. M. Gestão de pessoas no setor público e a reprodução do setor privado. Revista do Serviço Público, Brasília. v . 60, n. 3, p. 241-250, jul./set., 2009.


Gestão nas organizações públicas: modelo alternativo para autonomia
Guilherme Augusto de Oliveira Freire

(1)         Contexto/problematização relacionado ao tema.

O artigo apresenta considerações a respeito da gestão organizacional como um todo a fim de discutir as particularidades da gestão de pessoas nas organizações públicas. Para isso, os autores enfatizam as especificidades da gestão pública, problematizando, então, a “importação” da lógica de gestão privada para as organizações públicas e defendendo que o modelo privado não condiz com a realidade e as necessidades públicas. 

(2) Relevância e justificativa.

A pesquisa justifica-se por tratar da gestão de pessoas em organizações públicas por uma perspectiva crítica, apontando, assim, a importância de modelos específicos para esse âmbito. Dessa maneira, sua relevância está na proposição de um modelo alternativo para essas organizações.

(3) Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.

O artigo em questão não apresenta um problema de pesquisa delineado, contudo, problematiza-se a implantação de modelos de gestão copiados da iniciativa privada no setor público. Assim, o objetivo geral é analisar criticamente o “discurso contemporâneo em gestão de pessoas, verificando como discurso e prática gerencialistas se reproduzem no setor público, sem que haja a devida análise do fator ideológico que permeia a gestão privada”.

(4) Referencial teórico.

Tópicos
Detalhamento
Autores
Considerações acerca do imaginário organizacional moderno
-Gestão atual "doente", tem seu papel, sua função na organização e racionalização, porém, invade outras esferas da vida;
-Lógica da gestão privada como solução para o Estado e terceiro setor;
-Estratégia da flexibilização: tudo é flexibilizado, tornando o emprego temporário e precarizado para atender as necessidades de adaptação do mercado;
-Empregado: deve colocar o trabalho como prioridade na vida, triunfo da ideologia de realização de si mesmo;
-Ideologia gerencialista: tem fundamentos na quantificação e os valores perdem importância em função da racionalidade instrumental;
-Violência simbólica desse processo está na esfera individual e coletiva;
-Organização faz uso de operações para conseguir comprometimento do indivíduo: sedução e fascinação substituem o ideal de ego do indivíduo pelo organizacional;
-Discurso do superexecutivo de sucesso: dedicação única à organização e ao trabalho, fusão da identidade pessoal com a funcional e participação na tomada de decisões.
Gaulejac (2006), Chanlat (1996), Enriquez (1997), Levy (2001), Siqueira (2006).
Modelos de gestão em ação
-Modelos de gestão para as organizações públicas: constatação da importação de modelos do setor privado que não condizem com a realidade pública;
-Modelos gerenciais: carregados de carga de dominação inserida nos processos produtivos e administrativos;
-Controle é sutil: alcança a subjetividade do indivíduo que, por sua vez, não percebe o caráter controlador do modelo;
-Gestão de competência: modelo em voga que é um exemplo de discurso hegemônico em gestão de pessoas;
-Novo modelo de gestão de pessoas: necessário, tarefa complexa que exige reconhecimento das diferentes estruturas de funcionamento do ser humano;
-Abordagem psicodinâmica do trabalho: oferece as bases para a construção de espaços organizacionais que considerem as diferentes dimensões, dentre elas: técnica, de organização, social, de ordenamento, ética e da linguagem.
Miranda et all (2008), Diniz e Vieira (2008), Faria e Leal (2007), Heloani e Lancman (2004).


(5) Metodologia.

Elementos da pesquisa
Detalhamento
Autores
Tipo de pesquisa
Teórica
-
Abordagem
Qualitativa
-
Método de pesquisa
Pesquisa teórico-bibliográfica
-
População/Amostra
--
--



Unidade de Análise
--
-
Unidade de Observação
--
-
Coleta de Dados
--
--
Análise de Dados
Revisão bibliográfica
--


(6) Resultados.

O artigo em questão se organiza a partir de uma revisão teórico-bibliográfica, portanto, não possui em sua estrutura a apresentação de resultados, uma vez que não se trata de uma pesquisa prática e/ou empírica. Contudo, os autores trazem apontamentos a respeito do modelo alternativo considerado apropriado para a gestão no setor público: devem se embasar em fundamentos da psicodinâmica do trabalho, permitindo assim, a construção de espaços organizacionais abertos para escuta e para fala e voltados para a troca e a discussão, assim como para o compartilhamento.

(7) Considerações finais.

Os autores concluem reconhecendo a necessidade da gestão de pessoas no âmbito do setor público, contudo, enfatizando a importância de que seja construído um modelo próprio para as organizações públicas. Também destacam a necessidade de revisão dos modelos de gestão de pessoas de uma forma geral, salientando que mudanças pontuais na área de recursos humanos (como na remuneração, por exemplo) não são suficientes para enfrentar as causas que geram apatia ou desmotivação do servidor público. Até por isso mesmo, eles finalizam ressaltando a importância de um modelo próprio para gestão pública que além de eficiente, seja justo.

(8) Apreciação crítica - duas perguntas.

O artigo traz uma reflexão importante que condiz com a realidade da gestão de pessoas no setor público atualmente. As considerações apresentadas pelos autores são pertinentes e, nesse sentido, é possível perceber também uma boa fundamentação teórica que consegue discutir tanto a gestão em um sentido mais amplo quanto as especificidades de um modelo de gestão para as organizações públicas. Compreende-se, assim, que as colocações construídas sobre o modelo alternativo precisam ser mais discutidas por essa área do conhecimento e, portanto, merecem aprofundamento. Seguem as perguntas:

-O artigo critica fortemente a importação de modelos da gestão de pessoas advindos do setor privado para as organizações públicas. Considerando que essa importação é uma realidade no setor público, quais as consequências para o servidor público e, mais ainda, para os direitos (muitas vezes nomeados “serviços”) dos cidadãos?
-Os autores apresentam os elementos que consideram relevantes para o modelo alternativo de gestão de pessoas direcionado às organizações públicas, contudo, nomeiam alguns pressupostos que podem ser considerados idealistas de um ponto de vista mais pragmático. Portanto, cabe pensar: para além dos fundamentos teóricos que permitem construir essa crítica tão necessária, existem práticas imediatas cabíveis de serem implementadas para evitar a reprodução de um modelo inapropriado?



sábado, 18 de abril de 2020

Análise de competências na formação do administrador

Guilherme Augusto de Oliveira Freire


SOUZA, Donizeti Leandro de; FERRUGINI, Lílian; ZAMBALDE, André Luiz. Formação do administrador: uma análise sobre o desenvolvimento de competências no ensino superior. Revista Gestão Universitária na América Latina - GUAL, Florianópolis, p. 150-171, fev. 2017. ISSN 1983-4535.

O Autor principal do texto, Donizeti Leandro Souza é professor no no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - Campus Três Corações. Doutor e mestre em Administração pela Universidade Federal de Lavras na área de Gestão estratégica, Marketing e Inovação e integrante do Grupo de Estudos em Redes, Estratégia e Inovação GEREI/UFLA.
O texto aborda a situação atual dos egressos do curso de administração e faz um aparato geral sobre o que está funcionando e o que não está dentro do curso de administração, os autores tentam demonstrar na perspectiva dos alunos das Instituições de Ensino Superior (IES) e utiliza como base as competências identificadas no  Projeto Tuning – América Latina (BENEITONE et al., 2007) e nas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de Bacharelado em Administração (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2005). O texto contém 5 seções e aborda a trajetória do estudo descritivo e quantitativo elaborado a partir de uma amostra não probabilística em 3 IES mineiras, o que limita muito o resultado geral da pesquisa, onde não foi levando em consideração fatores demográficos, econômicos e sociais, visto que o Brasil é um país continental e de grande diversidade, foi aplicado um questionário contendo as competências identificadas no  Projeto Tuning, sendo mensuradas por meio de escalas tipo likert, ao meu entendimento essa foi a melhor maneira de se parametrizar os dados mesmo que alguns autores a critiquem pois permite apenas ordenação dos indivíduos por meio da favorabilidade de sua atitude com relação a determinado objeto, mas não revelam uma base para se dizer quanto um indivíduo é mais favorável que outro, nem para medir a quantidade de mudança de certa experiência (SELLTIZ et al., 1975; SANCHES; MEIRELES; SORDI, 2011). Acho também que a escala escolhida por eles foi muito ampla, 0 (não desenvolvidas) a 10 (fortemente desenvolvidas), o que favoreceu os dados mais centrais.
A parte principal do estudo é seção de resultados e discussões, nessa seção os autores fazem uma fundamentada análise dos resultados encontrados, com justificativas estatísticas e embasamento dos dados apresentados, a conclusão se deu pela força do grupo das competências de gestão, os autores demonstram também sua preocupação com o baixo resultado das competências tecnológicas.
Os autores concluem que as competências de formação dos alunos de administração não tem acompanhado as exigências evidenciadas na literatura, eles citam BEFEITONE et al., 2007 e PAES DE PAULA, 2001, o que corrobora também  com Moreira et al. (2014), que afirma que devido a competitividade, o mercado requer o perfil de um administrador com uma visão generalista de conhecimentos, nas várias áreas da Administração como contabilidade, direito, economia, gestão ambiental, dentre outras. Além disso, o administrador moderno deve aprimorar suas habilidades por meio de atividades variadas para que construa um perfil considerado adequado para o mercado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENEITONE, P.; ESQUETINI, C.; GONZÁLEZ, J.; MALETÁ, M. M.; SIUFI, G.; WAGENAAR, R. Reflections on and outlook for Higher Education in Latin America. Bilbao: Universidad de Deusto, 2007.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução nº 4, de 13 de Julho de 2005. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração, bacharelado, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 jul. 2005.

MOREIRA, F. M.; Queiroz, T. R.; MACINI, N.; CAMPEÃO, G. H. Os alunos de administração estão em sintonia com o mercado de trabalho?. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, 19(1), 61-88, 2014.

SANCHES, C.; MEIRELES, M.; SORDI, J. O. de. Análise qualitativa por meio da lógica paraconsciente: Método de interpretação e síntese de informação obtida por escalas Likert. In: Anais do III Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade. João Pessoa: 2011.
SELLTIZ, C.; JAHODA, M.; DEUTSCH, M.; COOK, S. W. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, 1975.

Introdução à Economia Solidária


SINGER, P. Capítulo I – Fundamentos. In: SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora - Fundação Perseu Abramo, 2002, p. 7-23.

Conforme Paul Singer expõe no capítulo inicial do seu livro, a economia capitalista caminha na sociedade atual a passos largos e impõe seus fundamentos ao mundo objetivo e ao mundo subjetivo. Com isso quero dizer que os valores expressos pelo capitalismo já infiltram, de maneira profunda, a vida social e suas relações. Por isso, o modo de vida dos sujeitos torna-se, cada vez mais, pautado pelo que é central a esse sistema: a competitividade e o lucro. Se pensarmos no contexto do trabalho e das empresas, nos deparamos com uma realidade em que quanto mais competitividade houver, maior a produtividade dos empregados e assim, maior a produção, gerando mais lucro para a empresa. Esse pensamento e suas intenções são dominantes nesses ambientes, visto que a oportunidade do lucro (que se fundamenta na exploração) nunca é negada e tal lucro repousa, majoritariamente, nas mãos das hierarquias mais altas que detém sempre mais poder.
Do ponto de vista do trabalho, essa realidade acaba sendo, na verdade, brutal. Por mais que um trabalhador comum (que realiza as tarefas mais cansativas, repetitivas e, por vezes, essenciais) cumpra suas funções da melhor forma possível, ele estará apenas lutando para manter seu emprego (não ser demitido) e receber a média de salário que sempre recebe, independente da produção. Enquanto isso, quem ocupa as hierarquias mais altas (que realizam os trabalhos menos repetitivos e cansativos), por serem tomadores de decisões e detentores do poder, recebem cada vez mais pela produção dos trabalhadores comuns. Como o autor nos mostra, essa forma de funcionamento é baseada na heterogestão, onde os níveis de autoridade são limitados e a competitividade é encorajada a todo custo. Nesse quadro, o trabalhador é reduzido a uma máquina que realiza certa atividade repetitivamente, contudo, seu potencial humano e criativo é, em geral, ignorado e até mesmo indesejado, já que pensar pode levar a criticar e, nesses ambientes, isso é afastado a qualquer custo.
Paul Singer discute os caminhos necessários para a constituição de uma economia mais solidária que enfrente a desigualdade estabelecida pelo capitalismo e estimule outros valores que não competição, por exemplo. Nesse sentido, o autor destaca que a economia solidária preza pela igualdade e pela associação e que, por isso, a cooperação entre todas as partes envolvidas é essencial. Em teoria, por meio dela seria possível a busca pelo menor nível de desigualdades possível. Ao tratar das experiências em empresas capitalistas e empresas solidárias, o autor inclusive coloca em questão que em alguns casos, é inviável que a receita obtida seja dividida igualmente (por qualificação e/ou para manter funcionários imprescindíveis para a empresa). Neste caso, é defendido então que qualquer desigualdade sirva de instrumento para impulsionar, sempre, os menos favorecidos, ou seja, para continuar investindo na qualidade do ambiente do trabalho, por exemplo.  
Além disso, outra diferença central seria a forma de organização das empresas. Enquanto as empresas capitalistas insistem em um modelo de heterogestão, o autor mostra que a tomada de decisões nas empresas solidárias funciona por meio da autogestão. Assim, a empresa preza pelo contato e pelo diálogo, onde assembleias e reuniões são feitas periodicamente com toda a empresa ou setores específicos (que já se reuniram anteriormente) e as decisões são, então, tomadas democraticamente. A preocupação central estaria voltada para atender aos interesses coletivos. Portanto, não é apenas nos valores expressos por cada tipo de empresa que elas se diferenciam, mas também em sua forma de organização.
De tudo que foi dito, cabe ressaltar que as empresas, capitalistas e solidárias, servem a propósitos completamente distintos. A questão que deve ser ressaltada é o que se espera com. A empresa capitalista se mantém de um modo que reforça os privilégios de poucos, em malefício da qualidade de trabalho e de vida de muitos num modelo que retrata um abismo de desigualdades e exclusão. A economia solidaria tenta aparecer como contraponto ou “alternativa”, buscando diminuir o abismo de desigualdades, mas sofre por funcionar através de uma forma de gestão difícil de manter e administrar (principalmente em grandes escalas) visto que conseguir harmonizar interesses/necessidades em meio à diversidade de pessoas, formações, personalidades e etc. é um grande desafio. Além disso, e talvez mais importante, cabe salientar que a empresa solidária lida com a principal dificuldade de prosperar em meio a uma sociedade em que a lógica capitalista está completamente enraizada na individualidade, na economia e na cultura das pessoas.


METODOLOGIA CIENTIFICA

1. Em quais situações é mais apropriado o uso de métodos quantitativos?


É mais apropriado o uso de métodos quantitativos em situações onde se pretende validar estatisticamente uma hipótese, ou seja, onde há necessidade de maior validade externa, na qual os resultados adquiridos possam ser generalizáveis para o conjunto em análise.


O uso desses métodos quantifica, mensura e obtém dados que vão confirmar ou contestar a hipótese inicial, apoiando o pesquisador a resolver o seu problema de pesquisa. Nesse tipo de metodologia, as informações vêm em formato de números, percentuais ou ainda, de dados que possam ser trabalhados estatisticamente.


2. Quais são as principais características dos métodos quantitativos?

Segundo o artigo Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social em saúde: algumas estratégias para a integração de Mauro Serapioni, as principais características dos métodos quantitativos são:

·         orientação à busca da magnitude e das causas dos fenômenos sociais, sem interesse pela dimensão subjetiva;

·         utilizam procedimentos controlados;

·         são objetivos e distantes dos dados (perspectiva externa, outsider);

·         são orientados à verificação e são hipotético-dedutivos;

·         possuem uma realidade estática;

·         são orientados aos resultados, replicáveis e generalizáveis.



3. Faça uma análise comparativa entre os métodos quantitativos e qualitativos

Os métodos quantitativos e qualitativos são de naturezas diferentes, com características bem distintas, mas inseridas na metodologia cientifica.


Se por um lado o método quantitativo tem como objetivos trazer a luz dados, indicadores, tendências, além de terem validade externa abrangente, replicável e generalizável, por outro lado não trazem à tona o entendimento de crenças, valores, opiniões e visões que os métodos qualitativos observam dentro do grupo de estudo.

Dessa forma, os métodos qualitativos trazem maior validade interna, focam em particularidades dos grupos sociais estudados, pretendendo compreender os fenômenos da perspectiva dos participantes. Tratam de questões ou focos de interesse amplos, que vão afunilando para pontos mais diretos e específicos no transcorrer da investigação, contudo não permitem a generalização.



INTERDISCIPLINARIDADE: UTOPIA OU NECESSIDADE?

INTERDISCIPLINARIDADE: UTOPIA OU NECESSIDADE?
Autoria: Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, Jane Gomes de Oliveira, Rosane de Magalhães Lopes Corgosinho

Questão 1: Afinal, interdisciplinaridade é uma utopia ou uma necessidade?
A interdisciplinaridade tem como base uma forma de estruturar uma maior quantidade de constructos na formação, principalmente dos egressos de administração, onde esses precisam de uma base técnica, mas também um grande conhecimento humano, com isso pode facilitar a compreensão de múltiplas situações e ajudar aos setores envolvidos uma melhor abordagem. A interdisciplinaridade se torna importante, uma vez que unifica toda esse conhecimento em forma de analisar o objetivo como um todo não separando em pequenas partes, uma visão macro da situação. Para Gonzalez e Almeida (2010), a interdisciplinaridade pode trazer para os profissionais envolvidos crescimento e desenvolvimento dos seus conhecimentos, e conseqüentemente melhorar as práxis existentes nas equipes. Há ainda a possibilidade de a interdisciplinaridade trazer vários reflexos na comunidade que está sendo atendida, provocando assim, melhoras na qualidade de vida dos usuários do serviço. Logo a interdisciplinaridade é uma necessidade mais que essencial para a formação do Administrador.
GONZALEZ, A. D.; ALMEIDA, M. J.. 2010. Integralidade da saúde: norteando mudanças na graduação dos novos profissionais.

Questão 2: Você leu o que diferentes autores entendem como interdisciplinaridade. Agora, prepare um texto de 3 ou 4 parágrafos retomando e criticando esses pensamentos. Crítica, aqui, deve ser entendida como uma análise: faça os autores "conversarem"!

O texto faz muito bem uma reflexão sobre o papel importante da interdisciplinaridade na formação do administrador, gosto muito da abordagem e da lógica que as autoras utilizam para demonstrar seus argumentos, os autores que são utilizados para reforçar e contrapor a ideia do texto são Lück (1995) que considera que a lógica de organização das disciplinas reproduz diretamente uma fragmentação das matérias diante do saber, Leis (2001) defende que a interdisciplinaridade é condição básica para o ensino na sociedade contemporânea e Fazenda (2003) compreende a mesma como sendo uma construção de uma visão integral da sociedade e do homem.
Vejo que mesmo com cada autor tendo seu ponto de vista e suas considerações a interdisciplinaridade na Administração é um ponto de essencial necessidade, questões ambientais e tecnológicas estão sempre sendo foco da formação do administrador, as disciplinas de Projeto Integrador estimulam os alunos a integrar os conteúdos abordados em diversas áreas do conhecimento trabalhando temas da realidade das organizações. Isso confirma as análises de Fazenda (2009) e Leis (2001) e Santomé (1998) de que a interdisciplinaridade como base pedagógica pode integrar os conteúdos disciplinares e responder aos desafios econômicos e socioambientais de uma sociedade cada vez mais complexa de forma mais efetiva

Plataformas digitais e emprego: renovação ou precarização do trabalho?


Guilherme Augusto de Oliveira Freire

(1)  Contexto/problematização relacionado ao tema.

O artigo trata das perspectivas atuais que abordam a relação entre as tecnologias digitais e o trabalho. A autora identifica duas abordagens para realizar sua discussão, uma determinista e outra crítica e parte para sua problematização dissertando a respeito do empreendedorismo, da polarização social e das questões políticas relacionadas ao tema.

(2) Relevância e justificativa.

O tema abordado tem grande relevância, especialmente em tempos atuais, pela dimensão tomada pelos tipos de economia abordadas no artigo (freelancer, sob pedido e de partilha) e as consequências socioeconômicas e políticas desse quadro. Além disso, a emergência dessas novas formas de trabalho e novas relações trabalhistas é uma realidade contemporânea, portanto, o artigo justifica-se por apresentar uma análise teórica significativa ao examinar tal fenômeno.

(3) Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.

O problema de pesquisa do artigo põe em questão a realidade contemporânea referente aos avanços tecnológicos e ao mundo do trabalho e destaca a seguinte pergunta: “estamos perante um novo tipo de economia com novo tipo de empresa e de trabalho?”. Seu objetivo é analisar as perspectivas que se confrontam (a determinista e a crítica) para, então, expor soluções aos problemas identificados.

(4) Referencial teórico.

O referencial teórico do artigo se sustenta na apresentação da perspectiva determinista tecnológica e da perspectiva crítica no que concerne a relação entre tecnologias digitais e trabalho. Portanto, ao abordar a perspectiva determinista a autora discute os teóricos do pós-emprego, a hiperespecialização, o taylorismo digital renovado, a revolução digital a partir de autores que destacam suas vantagens como flexibilidade, competitividade, redução de custos e afins. Os autores utilizados para essa discussão são: Charles Handy (1984), Bridges (1994), Zysman e Kenney (2014), Thomas Malone (2004), Malone, Laubacher e Johns (2011), dentre outros.
Já para discutir a perspectiva crítica são utilizados autores que apresentam as consequências negativas do que é defendido pela perspectiva determinista. Portanto, a crítica paira sobre a polarização das qualificações e dos salários, o aumento da desigualdade e a crescente concentração da riqueza e do poder, a substituição do trabalho humano. A autora do artigo foca, então, nos entrelaçamentos entre essa realidade e os fatores institucionais, políticos e socioeconômicos que se fundamentam com a instituição da sociedade da informação e do conhecimento. Dentre os autores abordados para essa exposição estão: Autor (2010), Autor e Dorn (2013), Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee (2014), Stiglitz (2013), Piketty (2014), dentre outros.

 (5) Metodologia.

O artigo apresenta uma exposição teórico-bibliográfica e realiza uma revisão ampla de teorias e conceitos relativos à temática discutida. Seu foco está na discussão da abordagem determinista (empreendedorismo, pós-emprego, hiperespecialização e taylorismo digital renovado) e da abordagem crítica (revolução digital, polarização social e automatização do trabalho). Por Há, também, uma reflexão baseada em proposições políticas, apresentando algumas categorias desse campo do conhecimento (como globalização, desigualdades sociais e desenvolvimento). Dentre os autores utilizados com mais ênfase nessa exposição teórico-bibliográfica estão: Charles Handy (1984), Bridges (1994), Zysman e Kenney (2014), Thomas Malone (2004), Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee (2014), Stiglitz (2013) e Piketty (2014).

(6) Resultados.

O artigo em questão apresenta uma revisão teórico-bibliográfica, portanto, não possui em sua estrutura a apresentação de resultados, uma vez que não se trata de uma pesquisa prática e/ou empírica. Contudo, apresenta algumas propostas políticas que, na visão da autora, poderiam contribuir para que a realidade do trabalho baseado em plataformas digitais não tenha efeitos negativos alarmantes. O eixo condutor dessas propostas está na rejeição às políticas neoliberais e dentre elas se destacam: conter o setor financeiro, promover medidas justas e de controle no sistema tributário e fiscal, o investimento na criação de empregos e a garantia de direitos e condições de trabalho decente. Em uma proposição mais abrangente são colocadas também considerações a respeito de uma remodelação da globalização, tornando possível o enfrentamento das desigualdades sociais na sociedade.

(7) Considerações finais.

Em suas considerações finais, a autora dá ênfase à atuação do poder público para possibilitar a renovação do trabalho a fim de garantir o desenvolvimento econômico e social de maneira sustentável, levando em conta assim, os aspectos qualitativos envolvidos na análise da relação entre as tecnologias digitais e o trabalho.

(8) Apreciação crítica - duas perguntas.

O artigo apresenta uma exposição ampla sobre o tema que, atualmente, é muito evidente na realidade socioeconômica de nosso país. As discussões promovidas no artigo trazem um pano de fundo teórico muito importante para a realidade do trabalho e das relações trabalhistas no momento histórico que vivemos. Pensando nas abordagens discutidas, fica clara a necessidade da adoção de uma perspectiva que considere tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos na análise dessa questão, uma vez que a atuação trabalhista envolve também a dimensão simbólico-cultural da existência humana. Além disso, faz-se necessário, conforme apontado no artigo, investir em uma reflexão sobre o papel da esfera política e institucional nesse quadro, destacando-se que o desenvolvimento econômico precisa orientar-se de modo sustentável (tanto social quanto ambientalmente). Seguem as perguntas:

-Conforme o artigo discute, a perda de direitos trabalhistas e a precarização do trabalho são realidades atuais que promovem o agravamento das desigualdades sociais. Dado o contexto exposto pelo artigo, que leitura crítica pode ser realizada sobre a Reforma Trabalhista aprovada em 2017 e suas consequências socioeconômicas para o Brasil?
-A utilização das plataformas digitais discutidas (como Uber e IFood, por exemplo) tem sido cada vez maior em nossa sociedade. Considerando essa realidade, como podermos pensar a posição do consumidor em face da realidade delineada pelo artigo?


REFERÊNCIA

KOVÁCS, I. Os avanços tecnológicos e o futuro do trabalho: debates recentes. XVI Encontro Nacional de Sociologia Industrial, das Organizações e do Trabalho - Futuros do Trabalho: Políticas, Estratégias e Prospetiva. Atas do XVI ENSIOT, 2016, p. 10-23.

NOVAS ABORDAGENS NO MUNDO CORPORATIVO


RESENHA: LEMOS, A. H. C., PINTO, M. S., SILVA, M. A. C. Mal-estar nas organizações: por que os jovens estão abandonando o mundo corporativo? RACE, Joaçaba, v. 16, n. 2, p. 703-728, maio/ago. 2017. Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/race>.

Guilherme Augusto de Oliveira Freire

(1)          Contexto/problematização relacionado ao tema.
                 
O artigo aborda o tema da rotatividade da força de trabalho, especialmente, nas camadas mais jovens da população. Assim, os autores buscam problematizar os motivos que levam a alta troca de emprego nas novas gerações e, ainda, as possíveis razões para seu afastamento das grandes empresas privadas tradicionais com o intuito de se dedicaram a atividades em outras áreas.

(2) Relevância e justificativa.

O estudo justifica-se por tratar de um tema de importância significativa tanto socioeconomicamente quanto organizacionalmente. Portanto, a relevância do artigo está em sua contribuição, uma vez que entendendo as motivações dos jovens para o afastamento das grandes empresas é possível atuar para diminuir a taxa de rotatividade no mercado de trabalho e contribui-se também para que as empresas possam conhecer e reter de maneira mais apropriada esses potenciais profissionais.

(3) Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.

O artigo delimita como problema de pesquisa o questionamento tanto da alta rotatividade das novas gerações nos empregos quanto da migração desses profissionais para outros setores e empresas, ou seja, a troca de opção de carreira. O objetivo principal delineado foi compreender os motivos que levam os jovens a rejeitar empregos em empresas privadas tradicionais e optarem por carreiras em outras bases (como setor acadêmico e público ou no empreendedorismo).

(4) Referencial teórico.

Tópicos
Detalhamento
Autores
A Geração Y
-Geração dos nascidos entre 1980 e 2000;
-Características da geração: dinamicidade, busca por desafios, flexibilidade, autonomia e participação, ambiente descontraído.
-Ligação com tecnologia e necessidade de conexão;
-Importância do feedback: querem saber sobre seu desempenho;
-Desejos e valores da geração Y: prazer no ambiente de trabalho, desejo por flexibilidade, necessidade de ter bons relacionamentos interpessoais e maior preocupação com os aspectos ligados à responsabilidade social;
-Heterogeneidade dos perfis, mesmo com entrevistados do mesmo socioeconômico e de escolaridade;
-Crítica às generalizações feitas na literatura sobre a geração Y.
Tulgan (2009), Alsop (2008); Cennamo e Gardner (2008), Vasconcelos et al. (2010), Lipkin e Perrymore (2010); Veloso; Silva e Dutra (2012), Erick­son (2008), Cavazotte; Lemos e Viana (2012), Sá; Lemos e Cavazotte (2014), Lemos (2012), Oliveira; Piccinini e Bitencourt (2012).

O Sentido do Trabalho
-Foco na distinção entre o sentido e o significado do trabalho;
-A pesquisa adota a diferenciação que associa o significado a interpretações socialmente compartilhadas e o sentido como individual.

-Trata o sentido do trabalho como um fenômeno dinâmico e multidimensional;
-Classifica três dimensões do trabalho: individual, organizacional e social;
-Destaca elementos importantes para o sentido do trabalho: clareza dos objetivos, estruturação do trabalho, utilidade do trabalho;
-A clareza em relação aos objetivos do trabalho: contribui para dotar o trabalho de sentido;
-A estruturação do trabalho: organização eficiente também o importante para sentido;
-A utilidade do trabalho: pode ser o reconhecimento da utilidade para a organização, para outros indivíduos e/ou para a sociedade;
-Salienta que são poucos os trabalhos que abordam a questão das diferentes gerações e dos sentidos do trabalho.
Rosso; Dekas e Wrzesniewski (2010), Andrade; Da rosa e Dellagnelo (2012), Tolfo e Piccinini (2007), Cavazotte; Lemos e Viana (2012), Teixeira et al. (2014), Oliveira et al. (2004), Morin; Tonelli e Pliopas (2007), Mow (1987).


(5) Metodologia.

Elementos da pesquisa
Detalhamento
Autores
Tipo de pesquisa
Exploratória e descritiva.
-
Abordagem
Qualitativa.
-
Método de pesquisa
Pesquisa teórico-bibliográfica e entrevista em profundidade.
-
População/Amostra
Técnica “bola de neve”: Seleção de doze jovens nascidos a partir de 1980 com experiência prévia no mundo corporativo privado e que abandonaram seu emprego nessas empresas em busca de outros caminhos profissionais.
-



Unidade de Análise
Analisa as transcrições das entrevistas em profundidade.
-
Unidade de Observação
--
-
Coleta de Dados
Entrevistas em profundidade.
-
Análise de Dados
Análise de conteúdo.
Bardin (2009).


(6) Resultados.

Os resultados encontrados alinham-se com a literatura, ou seja, os jovens entrevistados apontam, em geral, as mesmas razões encontradas nas referências, a saber: pouca autonomia decisória, pouca flexibilidade e insatisfação com o trabalho. Contudo, o artigo também destaca que os entrevistados salientaram ainda outros aspectos, como o anseio por segurança (que contraria o estereótipo da juventude como propensa a riscos) e, principalmente, a constante busca de sentido no trabalho. A análise de conteúdo realizada teve enfoque nos seguintes pontos:
-A valorização da autonomia: luta contra o cerceamento da liberdade;
-Busca de melhoria da qualidade: desejo de conciliar suas vidas pessoal e profissional;
-Rejeição à falta flexibilidade: de horário, de local e jornada de trabalho;
-Rejeição ao trabalho desprazeroso: ênfase no ambiente de trabalho que oferece desafios e realizações;
-Anseio pela segurança no trabalho: busca pela estabilidade no futuro;
-Rejeição ao trabalho sem sentido: uma questão que, segundo o artigo, não é abordada na literatura e que tem muita importância para os jovens atualmente. Conforme os autores do artigo, esse ponto tem a ver tanto com a percepção do trabalho apenas como "sobrevivência", como trabalho alienado quanto com a percepção do trabalho como sem utilidade.

(7) Considerações finais.

Os autores concluem que apesar dos apontamentos apresentados se alinharem, em geral, com a literatura sobre o tema, foram encontradas também percepções novas. Portanto, aponta-se como contribuição a ênfase na insatisfação do trabalho sem sentido, muito destacada pelos entrevistados. Assim, os autores concluem que o tema do sentido do trabalho tem grande relevância para os jovens. Por fim, o artigo aponta certa tendência de desgaste do modelo de trabalho e carreira tradicional, salientando a necessidade das empresas de repensarem suas estratégias de atração e retenção dos profissionais jovens.

(8) Apreciação crítica - duas perguntas.

O artigo em questão aborda um tema muito importante em tempos atuais, principalmente, dadas as condições e a realidade trabalhista em que vivemos. O enfoque na geração “Y” também é muito oportuno para se pensar o futuro do mercado de trabalho, afinal, é preciso que as empresas comecem a se atentar para os fatores apontados no artigo a fim de se construir um ambiente de trabalho mais alinhado aos anseios e valores descritos. Nesse sentido, podemos também pensar que, enquanto algumas abordagens desse tema sempre se apoiam na adaptação do trabalhador às exigências das empresas, o presente artigo traz uma perspectiva interessante, buscando destacar que é preciso também pensar no que é importante para os profissionais. Seguem as perguntas:
-A busca pelo “sentido do trabalho” conforme delineado no artigo tem, é claro, sua importância, especialmente, em nossa sociedade cada vez mais hierarquizada. Contudo, podemos pensar que a rejeição a certas carreiras e o abandono de postos de emprego em prol dessa busca é realmente uma realidade acessível às diferentes camadas da população? Portanto, poderia ser considerado um movimento elitista?
-O artigo tem ênfase, basicamente, em três tipos de carreiras: a acadêmica, a pública e o empreendedorismo. Considerando que duas dessas carreiras (acadêmica e pública) tem enfoque voltado para o coletivo, particularmente, prestando-se serviços diretos à sociedade, podemos entender que as pessoas têm se preocupado mais com a sua atuação no mundo? Isso pode ter relação com algum engajamento político e social mais amplo?