segunda-feira, 4 de maio de 2020

QUESTIONAMENTOS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES



1)      Os critérios de gestão adotados pelas organizações modernas (qualidade total, excelência operacional e profissional, competências etc) diferem ou não daqueles consagrados pelos teóricos clássicos (Taylor, Fayol, Ford, Mayo e Weber)? Inspirando-se no artigo de Omar Aktouf (Administração e Teorias das Organizações Contemporâneas: Rumo a um Humanismo-Radical Crítico?), aponte 5 elementos que justifiquem a resposta, desenvolvendo os argumentos correspondentes a cada um deles.


Aktouf não descarta totalmente os teóricos clássicos, no meu entendimento, ele faz mais uma releitura deles trazendo para um contexto mais humanístico, trazer essas teorias clássicas para a modernidade não é uma tarefa muito complexa, na verdade essas teorias moldam a administração atual, criando uma conjunção de todas em uma nova roupagem, como na moda o que é vintage sempre volta com força total.
Acredito que a diferença primordial entre as teorias clássica e as organizações modernas se coloca na importância do papel do homem dentro da organização, taylorismo e o fordismo tem um foco na produção em massa, com isso, o empregado se tornou uma peça exclusivamente executora de ordens pré-determinadas, obediente a um plano de trabalho pensado por quem estava a cima da linha de execução. No texto do Aktouf ele quer balancear essa relação trazendo para próximo essa relação entre quem produz e quem comanda, este cenário impulsiona, paradoxalmente, as organizações modernas a realizarem uma gestão diversa, renunciando, de forma relativa, ao poder, aos direitos de propriedade, à gestão unilateral e aos privilégios exclusivos. Isto implica a uma produção organizada e partilhada nos lucros, nas orientações, com maior autonomia e protagonismo do trabalhador, Dentro das organizações o empregado tem papeis diversificados e amplamente definidos, com treinamento em múltiplas competências para que sejam intercambiáveis e possam trabalhar de maneira flexível e orgânica, bem como de forma autogerenciada (Morgan, 2002).
Acho que um ponto que impacta nas organizações modernas e como se obtém e como se utiliza do lucro gerado pela organização, nas teóricas clássicas gera-se uma sede de controle e poder do empregador em face do empregado, através do fator financeiro e social, onde bloqueia a criatividade e a inovação das camadas mais baixas e utilizando da hierarquia e autoridade por meio da burocracia racionalizada e legal, não permitindo espaço de livre pensamento e manifestaçãodo trabalhador (Weber, 2000) esse pensamento afasta o trabalhador de postos mais altos dentro da organização, contribuindo com a desigualdade social e criando uma espécie de preconceito, já nas organizações modernas e seguindo uma vertente mais defendida por Aktouf, os gerentes assumem uma postura de mediadores e facilitadores das atividades executadas pelos empregados, evitando o papel de planejadores para gerenciar limites e condições propícias ao desenvolvimento, mesmo que ainda exista uma grande segregação social acho que a questão da meritocracia tem uma a ser traçada, acho que realmente não existam condições igualitárias, mas algumas coisas já evoluíram. Além disso, por meio da participação nos lucros, os empregados se sentem inseridos no contexto da organização, assumindo vontade de serem cúmplices da mesma, vivendo a mesma como uma extensão real da sua própria vida (Aktouf, 2001), ele também fala que Taylor e Fayol já tinham se deparado com um conflito entre capital e trabalho, onde os empresários estariam dispostos a partilhar lucros da empresa com seus empregados, ponto importante para a mudança das teorias clássicas, uma vez que não basta a mudança cultural do empregado, mas também o capital e a força de trabalho andar na mesma página.
Da escola de relações de humanas, protagonizada por Elton Mayo, houve não só contribuições as teorias e práticas administrativas, mas principalmente no estudo de como as relações sociais determinam a produtividade das empresas, ou seja, a inclusão de um ponto de vista voltado para outros aspectos até então não abordados, como condições ambientais, cooperação e formação de grupos informais, abrindo espaço para uma nova percepção do homem e de seu papel no trabalho. Essa base teórica continua sendo uma referência de grande importância para estudos de relações de trabalho e foi a base para o desenvolvimento da psicologia organizacional, a qual preconiza estudos de extrema relevância na atualidade, principalmente sobre a relação das práticas de gestão organizacionais e os respectivos impactos nos indivíduos. Esse é um ponto bem interessante, a visão do homem com um ser social e econômico, gerador de conflitos, o que não era perceptível a Mayo, mas que deve ser considerada, pois a sua individualidade, sua postura como ser único, possibilita interpelar a condição existente, apontando falhas e criando novas alternativas em uma prática autopensante que se baseia uma ação inteligente (Mogan, 2002).



2)      No entendimento de Prestes Motta, a burocracia vista como o ideal de racionalização do trabalho impede que os indivíduos se insiram na sociedade de acordo com as suas necessidades e o seu bem-estar pessoal, idéia que implica a noção de alienação. Ou seja, na opinião do autor, a burocracia domina completamente o trabalho humano, impedindo o trabalhador expressar as suas singularidades ou usufruir inteiramente o produto do seu trabalho. É possível se emancipar dessa “prisão”? Justifique a resposta tomando por base de sustentação o artigo de José Henrique de Faria e Francis Kanashiro Meneghetti (Burocracia como Organização, Poder e Controle).

Começo dizendo que a burocracia jamais será eliminada, ou seja, mesmo nas organizações modernas ela irá persistir, ela é necessária para o bom funcionamento das organizações, para sua organização e para que as regras sejam definidas e cumpridas, mas o excesso ou o descontrole sobre a burocracia pode causar diversos problemas, (Weber, 2000) fala sobre como através da burocracia o empregado se fecha dentro do processo criativo e participativo dentro da organização, não permitindo espaço de livre pensamento e manifestação do trabalhador.
A dominação se apresenta como um "'estado de coisas' no qual as ações dos dominados aparecem como se estes houvessem adotado como seu o conteúdo da vontade manifesta do dominante" (PRESTES MOTTA, 1981, p. 59). De acordo com Mészáros (2006) Marx apresenta a mais conhecida teorização sobre a alienação, que não parte da burocracia, mas do trabalho. A teoria da alienação do trabalho apresenta a contradição fundamental da produção capitalista de mercadorias, no sentido de que o trabalhador torna-se mais pobre na medida em que produz mais riqueza; torna-se mercadoria tão mais insignificante quanto mais riqueza produz. Dessa forma, enquanto cria valor no mundo das coisas, o mundo da vida dos homens aumenta em razão direta de sua depreciação.
Essa situação somente contribui para o alargamento das desigualdades onde a utilização da burocracia é um instrumento categorizado para separar quem produz de ter condições de alcançar postos de planejamento.
A burocracia deve ser entendida em seu espaço e tempo históricos, onde as empresas e o empregado devem ter conhecimento que diferentes empresas devem se utilizar de diferentes tipos de burocracia.
Tem-se que a empresa humanizada precisa do homem mais autônomo, com menos amarras burocráticas e mais empoderamento para se sentir acolhido na organização e desenvolver seus projetos por meio de sua criatividade, sentidos e desejos (Aktouf, 2001).
Vejo que a melhor solução para essa questão e a criação de medidas tecnológicas para facilitar e deixar o processo tecnológico mais transparente onde todos que fazem parte do processo consigam entender e discutir melhores soluções e conflitos, sugerindo mudanças e atualizações em processos demasiadamente lentos, sistemas de informação e processos digitais, transformam processos em papel obsoletos, onde o rastro do processo sempre será salvo e a informação estará sempre ao alcance de todos, a meu ver a transparência pode ser a melhor forma de quebrar essas correntes e trazer a liberdade para o empregado dentro da organização.

3)        No artigo “Emergência e Proliferação de Redes Organizacionais: Marcando Mudanças no Mundo dos Negócios”, de AlketaPeci, a autora argumenta que as redes organizacionais são cada vez mais necessárias para as organizações alcançarem flexibilidade, integração e eficiência coletiva. Todavia, mudanças de comportamento e valorização crescente do papel do homem dentro da organização são fundamentais para o alcance desses propósitos. Baseando-se na teoria das Redes Organizacionais, que elementos comportamentais (pertinentes ao indivíduo) e de valorização do homem no trabalho (pertinentes à organização) você considera que atenderiam o argumento da autora do artigo? Cite dois elementos para cada uma dessas dimensões, justificando-os.

As redes organizacionais se baseiam em parceria e colaboração envoltas em drástica mudança comportamental gerencial como resposta às crescentes e corriqueiras mudanças ambientais e à necessidade de interdependência entre as organizações.Para se adaptarem às constantes mutações do sistema gerencial e de consumo, as redes implantam uma flexibilidade interna e externa, buscando maior eficiência coletiva, valorizando, assim, o papel do homem dentro da organização.
AlketaPeci aponta que a inovação tecnológica e o elevado grau de incerteza provocado por um ambiente dinâmico e variável causa uma complexidade e um caráter multifacetado das interconexões empresariais, expondo, a seu ver, um caminho de valores significativos para todos os membros da área; existência de relações entre organizações dissimilares, mas cujas sorte são positivamente relacionadas, fortalecendo, assim, a colaboração; e a mudança de noção de planificação estratégia, levando em consideração o interesse dos outros.
A estrutura de uma organização deve ser entendida e analisada em termos de múltiplas redes de relação e, as ações, atitudes e comportamentos dos atores de uma organização decorrem da necessidade de se relacionar.
Já se referindo ao homem, a autora destaca que cada pessoa é importante para o todo, vez que possui um conhecimento tácito único, oriundo de sua experiencia de vida pessoal e profissional, sua formação como cidadão e seus valores, algo inseparável dos projetos e processos que participará.
Neste sentido, a individualidade de cada pessoa, em seu jeito de ser, pensar, sentir e agir, é um elemento comportamental de valorização do ser humano como ser racional singular e, esta singularidade agrega a coletividade, vez que em um planejamento ou execução de projeto não haverá uma homogeneidade de posturas e pensamentos lineares, mas sim uma discussão flexível e aberta sobre o tema de trabalho, em face da aceitação da diversidade no meio empresarial.
Esta receptividade da particularidade de cada ser humano diz respeito a interpessoalidade e a criação e fortalecimento deredes sociais, pois valoriza as pessoas e corrobora com possibilidade de interação no trabalho, fazendo com que o trabalhador se sinta pertencente à organização, como seu cumplice ativo (Aktouf, 2001).
Diante disso, tem-se uma maior integração das pessoas, seja, por meio de grupos formais, seja por meio de grupos pessoais, pois se relacionarão facilitando adaptação à mudançade ambientes complexos, onde se demanda flexibilidade.
A partir desse ponto se constata outros elementos comportamentais importantes para a solução de problemas decorrentes das mudanças e necessário à adaptabilidade em um cenário de rotineiras mudanças. A criatividade é umrequisito indispensável ao homem que, sujeito a alterações ambientais, precisa inovar e se amoldar aos anseios da rede e do mercado.
Repare-se que a criatividade advém da pessoa em si, relacionando-se com a sua individualidade e suas características próprias, mas também se desenvolve por meio do relacionamento com outras pessoas e diferentes formas de criar.
Estes elementos são imprescindíveis à competência de se precipitar transformações intencionais e de responder continuamente às alterações não antecipadas, se adequando às consequências inesperadas de mudanças ocorridas de maneira colaborativa, algo inerente às próprias redes organizacionais.
No que tange valorização do homem no trabalho pertinentes à organização, de plano cita-se a autonomia concedida ao empregado para que possa criar, se relacionar, aprender, desaprender e reaprender (Morgan, 2002).
A autonomia aqui defendida se refere a possibilidade do empregado em se manifestar, expor suas ideias, pensamentos, criações e colaborar com busca de soluções para alguma situação problema vivida pela empresa.
Importante que, neste sentido, o gerente seja um facilitador, um mediador no processo de criação, inovação e desenvolvimento da organização frente as modificações do meio, bem como na gerência de conflitos. Este estilo de liderança favorece a relação social, propicia a postura ativa do empregado e colaboração entre todos, permitindo ainda, que o trabalhador desenvolva suas tarefas de maneira desenvolta e se sinta confiante para dialogar, interagir e conciliar com seus colegas e com o referido gerente, construindo um consenso sobre o trabalho desenvolvido.
Outro elemento diz respeito a comunicação e a troca de informações constantes entre as pessoas, posto que, assim, conseguirão provocar as adaptações necessárias à organização frente a mutação do ambiente. Imprescindível que a comunicação seja não violenta, com um feedback constante, aceitação crítica e crescimento mútuo, vez que, lembrando do respeito a individualidade, se conseguirá melhorais pessoais, profissionais e empresariais.
Importante que haja interação entre as equipes, repassando conhecimento umas para as outras, permitindo a multifuncionalidade do empregado e aquisição de outras competências para atuação na planificação estratégia da ação de maneira coordenada e, conhecida pelas pessoas.
A administração de redes impõe a administração de estruturas flexíveis com o objetivo se alcançar a eficiência coletiva, por meio de gerencias que atuam em parceria com os trabalhadores.

É imprescindível citar que a autora, AlketaPeci, menciona que há necessidade de potencializar o homem no sentido físico, cognitivo, emotivo, profissional social e a integridade em si mesmo, posto que o ser humano está sujeito a diversas situações que afetam seu corpo e mente e não basta lança-lo em uma organização humanizada sem que se estabeleçam condições de melhorar a performance de um sistema sociotécnico e da própria integridade da vida sem que se construam condições conjuntas de força e sanidade física, nível de compreensão e competência, estabilidade emotiva, habilidade profissional e integração social, bem como confiança em si mesmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AKTOUF, O. Administração e Teorias das Organizações Contemporâneas: rumo a um humanismo-radical crítico?.Organizações & Sociedade, v. 8, n. 21, p. 13-33, 2001.

Morgan, Gareth, 1943 Imagens da organização: edição executiva/Gareth Morgan; tradução Geni G. Goldschmidt. - 2. ed. - 4a reimpressão - São Paulo : Atlas, 2002.

Weber, Max, 1864-1920 Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva / Max Weber; tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn - Brasília, DF : Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. 586 p.

FARIA, José Henrique de; MENEGHETTI, Francis Kanashiro. Burocracia como organização, poder e controle. Rev. adm. empres.,  São Paulo ,  v. 51, n. 5, p. 424-439,  Oct.  2011 . 

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