RESENHA: LEMOS, A. H. C.,
PINTO, M. S., SILVA, M. A. C. Mal-estar
nas organizações: por que os jovens estão abandonando o mundo corporativo?
RACE, Joaçaba, v. 16, n. 2, p. 703-728, maio/ago. 2017. Disponível em:
<http://editora.unoesc.edu.br/index.php/race>.
Guilherme Augusto de Oliveira Freire
(1)
Contexto/problematização
relacionado ao tema.
O artigo aborda o tema da rotatividade da
força de trabalho, especialmente, nas camadas mais jovens da população. Assim,
os autores buscam problematizar os motivos que levam a alta troca de emprego
nas novas gerações e, ainda, as possíveis razões para seu afastamento das
grandes empresas privadas tradicionais com o intuito de se dedicaram a
atividades em outras áreas.
(2)
Relevância e justificativa.
O estudo justifica-se por tratar de um tema
de importância significativa tanto socioeconomicamente quanto organizacionalmente.
Portanto, a relevância do artigo está em sua contribuição, uma vez que
entendendo as motivações dos jovens para o afastamento das grandes empresas é
possível atuar para diminuir a taxa de rotatividade no mercado de trabalho e
contribui-se também para que as empresas possam conhecer e reter de maneira
mais apropriada esses potenciais profissionais.
(3)
Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.
O artigo delimita como problema de
pesquisa o questionamento tanto da alta rotatividade das novas gerações nos
empregos quanto da migração desses profissionais para outros setores e
empresas, ou seja, a troca de opção de carreira. O objetivo principal delineado
foi compreender os motivos que levam os jovens a rejeitar empregos em empresas
privadas tradicionais e optarem por carreiras em outras bases (como setor
acadêmico e público ou no empreendedorismo).
(4)
Referencial teórico.
Tópicos
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Detalhamento
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Autores
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A
Geração Y
|
-Geração
dos nascidos entre 1980 e 2000;
-Características
da geração: dinamicidade, busca por desafios, flexibilidade, autonomia e
participação, ambiente descontraído.
-Ligação
com tecnologia e necessidade de conexão;
-Importância
do feedback: querem saber sobre seu desempenho;
-Desejos
e valores da geração Y: prazer no ambiente de trabalho, desejo por
flexibilidade, necessidade de ter bons relacionamentos interpessoais e maior
preocupação com os aspectos ligados à responsabilidade social;
-Heterogeneidade
dos perfis, mesmo com entrevistados do mesmo socioeconômico e de escolaridade;
-Crítica
às generalizações feitas na literatura sobre a geração Y.
|
Tulgan
(2009), Alsop (2008); Cennamo e Gardner (2008), Vasconcelos et al. (2010),
Lipkin e Perrymore (2010); Veloso; Silva e Dutra (2012), Erickson (2008), Cavazotte; Lemos e Viana (2012), Sá;
Lemos e Cavazotte (2014), Lemos (2012), Oliveira; Piccinini e Bitencourt
(2012).
|
O Sentido do Trabalho
|
-Foco
na distinção entre o sentido e o significado do trabalho;
-A
pesquisa adota a diferenciação que associa o significado a interpretações socialmente
compartilhadas e o sentido como individual.
-Trata
o sentido do trabalho como um fenômeno dinâmico e multidimensional;
-Classifica
três dimensões do trabalho: individual, organizacional e social;
-Destaca
elementos importantes para o sentido do trabalho: clareza dos objetivos, estruturação
do trabalho, utilidade do trabalho;
-A
clareza em relação aos objetivos do trabalho: contribui para dotar o trabalho
de sentido;
-A
estruturação do trabalho: organização eficiente também o importante para
sentido;
-A
utilidade do trabalho: pode ser o reconhecimento da utilidade para a
organização, para outros indivíduos e/ou para a sociedade;
-Salienta
que são poucos os trabalhos que abordam a questão das diferentes gerações e
dos sentidos do trabalho.
|
Rosso;
Dekas e Wrzesniewski (2010), Andrade; Da rosa e Dellagnelo (2012), Tolfo e
Piccinini (2007), Cavazotte; Lemos e Viana (2012), Teixeira et al. (2014),
Oliveira et al. (2004), Morin; Tonelli e Pliopas (2007), Mow (1987).
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(5)
Metodologia.
Elementos da
pesquisa
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Detalhamento
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Autores
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Tipo
de pesquisa
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Exploratória
e descritiva.
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-
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Abordagem
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Qualitativa.
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-
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Método
de pesquisa
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Pesquisa
teórico-bibliográfica e entrevista em profundidade.
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-
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População/Amostra
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Técnica “bola de neve”: Seleção de doze jovens nascidos a
partir de 1980 com experiência prévia no mundo corporativo privado e que
abandonaram seu emprego nessas empresas em busca de outros caminhos
profissionais.
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-
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Unidade
de Análise
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Analisa as transcrições das entrevistas em profundidade.
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-
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Unidade
de Observação
|
--
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-
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Coleta
de Dados
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Entrevistas
em profundidade.
|
-
|
Análise
de Dados
|
Análise
de conteúdo.
|
Bardin
(2009).
|
(6)
Resultados.
Os resultados encontrados alinham-se com a
literatura, ou seja, os jovens entrevistados apontam, em geral, as mesmas razões
encontradas nas referências, a saber: pouca autonomia decisória, pouca
flexibilidade e insatisfação com o trabalho. Contudo, o artigo também destaca
que os entrevistados salientaram ainda outros aspectos, como o anseio por
segurança (que contraria o estereótipo da juventude como propensa a riscos) e,
principalmente, a constante busca de sentido no trabalho. A análise de conteúdo
realizada teve enfoque nos seguintes pontos:
-A valorização da autonomia: luta contra o
cerceamento da liberdade;
-Busca de melhoria da qualidade: desejo de
conciliar suas vidas pessoal e profissional;
-Rejeição à falta flexibilidade: de horário,
de local e jornada de trabalho;
-Rejeição ao trabalho desprazeroso: ênfase no
ambiente de trabalho que oferece desafios e realizações;
-Anseio pela segurança no trabalho: busca
pela estabilidade no futuro;
-Rejeição ao trabalho sem sentido: uma questão
que, segundo o artigo, não é abordada na literatura e que tem muita importância
para os jovens atualmente. Conforme os autores do artigo, esse ponto tem a ver
tanto com a percepção do trabalho apenas como "sobrevivência", como
trabalho alienado quanto com a percepção do trabalho como sem utilidade.
(7)
Considerações finais.
Os autores concluem que apesar dos
apontamentos apresentados se alinharem, em geral, com a literatura sobre o
tema, foram encontradas também percepções novas. Portanto, aponta-se como
contribuição a ênfase na insatisfação do trabalho sem sentido, muito destacada
pelos entrevistados. Assim, os autores concluem que o tema do sentido do
trabalho tem grande relevância para os jovens. Por fim, o artigo aponta certa
tendência de desgaste do modelo de trabalho e carreira tradicional, salientando
a necessidade das empresas de repensarem suas estratégias de atração e retenção
dos profissionais jovens.
(8)
Apreciação crítica - duas perguntas.
O artigo em questão aborda um tema muito
importante em tempos atuais, principalmente, dadas as condições e a realidade
trabalhista em que vivemos. O enfoque na geração “Y” também é muito oportuno
para se pensar o futuro do mercado de trabalho, afinal, é preciso que as
empresas comecem a se atentar para os fatores apontados no artigo a fim de se
construir um ambiente de trabalho mais alinhado aos anseios e valores
descritos. Nesse sentido, podemos também pensar que, enquanto algumas
abordagens desse tema sempre se apoiam na adaptação do trabalhador às
exigências das empresas, o presente artigo traz uma perspectiva interessante,
buscando destacar que é preciso também pensar no que é importante para os
profissionais. Seguem as perguntas:
-A busca pelo “sentido do trabalho” conforme
delineado no artigo tem, é claro, sua importância, especialmente, em nossa
sociedade cada vez mais hierarquizada. Contudo, podemos pensar que a rejeição a
certas carreiras e o abandono de postos de emprego em prol dessa busca é
realmente uma realidade acessível às diferentes camadas da população? Portanto,
poderia ser considerado um movimento elitista?
-O artigo tem ênfase, basicamente, em três
tipos de carreiras: a acadêmica, a pública e o empreendedorismo. Considerando
que duas dessas carreiras (acadêmica e pública) tem enfoque voltado para o
coletivo, particularmente, prestando-se serviços diretos à sociedade, podemos
entender que as pessoas têm se preocupado mais com a sua atuação no mundo? Isso
pode ter relação com algum engajamento político e social mais amplo?
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