sábado, 18 de abril de 2020

Introdução à Economia Solidária


SINGER, P. Capítulo I – Fundamentos. In: SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora - Fundação Perseu Abramo, 2002, p. 7-23.

Conforme Paul Singer expõe no capítulo inicial do seu livro, a economia capitalista caminha na sociedade atual a passos largos e impõe seus fundamentos ao mundo objetivo e ao mundo subjetivo. Com isso quero dizer que os valores expressos pelo capitalismo já infiltram, de maneira profunda, a vida social e suas relações. Por isso, o modo de vida dos sujeitos torna-se, cada vez mais, pautado pelo que é central a esse sistema: a competitividade e o lucro. Se pensarmos no contexto do trabalho e das empresas, nos deparamos com uma realidade em que quanto mais competitividade houver, maior a produtividade dos empregados e assim, maior a produção, gerando mais lucro para a empresa. Esse pensamento e suas intenções são dominantes nesses ambientes, visto que a oportunidade do lucro (que se fundamenta na exploração) nunca é negada e tal lucro repousa, majoritariamente, nas mãos das hierarquias mais altas que detém sempre mais poder.
Do ponto de vista do trabalho, essa realidade acaba sendo, na verdade, brutal. Por mais que um trabalhador comum (que realiza as tarefas mais cansativas, repetitivas e, por vezes, essenciais) cumpra suas funções da melhor forma possível, ele estará apenas lutando para manter seu emprego (não ser demitido) e receber a média de salário que sempre recebe, independente da produção. Enquanto isso, quem ocupa as hierarquias mais altas (que realizam os trabalhos menos repetitivos e cansativos), por serem tomadores de decisões e detentores do poder, recebem cada vez mais pela produção dos trabalhadores comuns. Como o autor nos mostra, essa forma de funcionamento é baseada na heterogestão, onde os níveis de autoridade são limitados e a competitividade é encorajada a todo custo. Nesse quadro, o trabalhador é reduzido a uma máquina que realiza certa atividade repetitivamente, contudo, seu potencial humano e criativo é, em geral, ignorado e até mesmo indesejado, já que pensar pode levar a criticar e, nesses ambientes, isso é afastado a qualquer custo.
Paul Singer discute os caminhos necessários para a constituição de uma economia mais solidária que enfrente a desigualdade estabelecida pelo capitalismo e estimule outros valores que não competição, por exemplo. Nesse sentido, o autor destaca que a economia solidária preza pela igualdade e pela associação e que, por isso, a cooperação entre todas as partes envolvidas é essencial. Em teoria, por meio dela seria possível a busca pelo menor nível de desigualdades possível. Ao tratar das experiências em empresas capitalistas e empresas solidárias, o autor inclusive coloca em questão que em alguns casos, é inviável que a receita obtida seja dividida igualmente (por qualificação e/ou para manter funcionários imprescindíveis para a empresa). Neste caso, é defendido então que qualquer desigualdade sirva de instrumento para impulsionar, sempre, os menos favorecidos, ou seja, para continuar investindo na qualidade do ambiente do trabalho, por exemplo.  
Além disso, outra diferença central seria a forma de organização das empresas. Enquanto as empresas capitalistas insistem em um modelo de heterogestão, o autor mostra que a tomada de decisões nas empresas solidárias funciona por meio da autogestão. Assim, a empresa preza pelo contato e pelo diálogo, onde assembleias e reuniões são feitas periodicamente com toda a empresa ou setores específicos (que já se reuniram anteriormente) e as decisões são, então, tomadas democraticamente. A preocupação central estaria voltada para atender aos interesses coletivos. Portanto, não é apenas nos valores expressos por cada tipo de empresa que elas se diferenciam, mas também em sua forma de organização.
De tudo que foi dito, cabe ressaltar que as empresas, capitalistas e solidárias, servem a propósitos completamente distintos. A questão que deve ser ressaltada é o que se espera com. A empresa capitalista se mantém de um modo que reforça os privilégios de poucos, em malefício da qualidade de trabalho e de vida de muitos num modelo que retrata um abismo de desigualdades e exclusão. A economia solidaria tenta aparecer como contraponto ou “alternativa”, buscando diminuir o abismo de desigualdades, mas sofre por funcionar através de uma forma de gestão difícil de manter e administrar (principalmente em grandes escalas) visto que conseguir harmonizar interesses/necessidades em meio à diversidade de pessoas, formações, personalidades e etc. é um grande desafio. Além disso, e talvez mais importante, cabe salientar que a empresa solidária lida com a principal dificuldade de prosperar em meio a uma sociedade em que a lógica capitalista está completamente enraizada na individualidade, na economia e na cultura das pessoas.


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