sábado, 2 de maio de 2020

Gestão nas organizações públicas: modelo alternativo para autonomia



SIQUEIRA, M. V. S.; MENDES, A. M. Gestão de pessoas no setor público e a reprodução do setor privado. Revista do Serviço Público, Brasília. v . 60, n. 3, p. 241-250, jul./set., 2009.


Gestão nas organizações públicas: modelo alternativo para autonomia
Guilherme Augusto de Oliveira Freire

(1)         Contexto/problematização relacionado ao tema.

O artigo apresenta considerações a respeito da gestão organizacional como um todo a fim de discutir as particularidades da gestão de pessoas nas organizações públicas. Para isso, os autores enfatizam as especificidades da gestão pública, problematizando, então, a “importação” da lógica de gestão privada para as organizações públicas e defendendo que o modelo privado não condiz com a realidade e as necessidades públicas. 

(2) Relevância e justificativa.

A pesquisa justifica-se por tratar da gestão de pessoas em organizações públicas por uma perspectiva crítica, apontando, assim, a importância de modelos específicos para esse âmbito. Dessa maneira, sua relevância está na proposição de um modelo alternativo para essas organizações.

(3) Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.

O artigo em questão não apresenta um problema de pesquisa delineado, contudo, problematiza-se a implantação de modelos de gestão copiados da iniciativa privada no setor público. Assim, o objetivo geral é analisar criticamente o “discurso contemporâneo em gestão de pessoas, verificando como discurso e prática gerencialistas se reproduzem no setor público, sem que haja a devida análise do fator ideológico que permeia a gestão privada”.

(4) Referencial teórico.

Tópicos
Detalhamento
Autores
Considerações acerca do imaginário organizacional moderno
-Gestão atual "doente", tem seu papel, sua função na organização e racionalização, porém, invade outras esferas da vida;
-Lógica da gestão privada como solução para o Estado e terceiro setor;
-Estratégia da flexibilização: tudo é flexibilizado, tornando o emprego temporário e precarizado para atender as necessidades de adaptação do mercado;
-Empregado: deve colocar o trabalho como prioridade na vida, triunfo da ideologia de realização de si mesmo;
-Ideologia gerencialista: tem fundamentos na quantificação e os valores perdem importância em função da racionalidade instrumental;
-Violência simbólica desse processo está na esfera individual e coletiva;
-Organização faz uso de operações para conseguir comprometimento do indivíduo: sedução e fascinação substituem o ideal de ego do indivíduo pelo organizacional;
-Discurso do superexecutivo de sucesso: dedicação única à organização e ao trabalho, fusão da identidade pessoal com a funcional e participação na tomada de decisões.
Gaulejac (2006), Chanlat (1996), Enriquez (1997), Levy (2001), Siqueira (2006).
Modelos de gestão em ação
-Modelos de gestão para as organizações públicas: constatação da importação de modelos do setor privado que não condizem com a realidade pública;
-Modelos gerenciais: carregados de carga de dominação inserida nos processos produtivos e administrativos;
-Controle é sutil: alcança a subjetividade do indivíduo que, por sua vez, não percebe o caráter controlador do modelo;
-Gestão de competência: modelo em voga que é um exemplo de discurso hegemônico em gestão de pessoas;
-Novo modelo de gestão de pessoas: necessário, tarefa complexa que exige reconhecimento das diferentes estruturas de funcionamento do ser humano;
-Abordagem psicodinâmica do trabalho: oferece as bases para a construção de espaços organizacionais que considerem as diferentes dimensões, dentre elas: técnica, de organização, social, de ordenamento, ética e da linguagem.
Miranda et all (2008), Diniz e Vieira (2008), Faria e Leal (2007), Heloani e Lancman (2004).


(5) Metodologia.

Elementos da pesquisa
Detalhamento
Autores
Tipo de pesquisa
Teórica
-
Abordagem
Qualitativa
-
Método de pesquisa
Pesquisa teórico-bibliográfica
-
População/Amostra
--
--



Unidade de Análise
--
-
Unidade de Observação
--
-
Coleta de Dados
--
--
Análise de Dados
Revisão bibliográfica
--


(6) Resultados.

O artigo em questão se organiza a partir de uma revisão teórico-bibliográfica, portanto, não possui em sua estrutura a apresentação de resultados, uma vez que não se trata de uma pesquisa prática e/ou empírica. Contudo, os autores trazem apontamentos a respeito do modelo alternativo considerado apropriado para a gestão no setor público: devem se embasar em fundamentos da psicodinâmica do trabalho, permitindo assim, a construção de espaços organizacionais abertos para escuta e para fala e voltados para a troca e a discussão, assim como para o compartilhamento.

(7) Considerações finais.

Os autores concluem reconhecendo a necessidade da gestão de pessoas no âmbito do setor público, contudo, enfatizando a importância de que seja construído um modelo próprio para as organizações públicas. Também destacam a necessidade de revisão dos modelos de gestão de pessoas de uma forma geral, salientando que mudanças pontuais na área de recursos humanos (como na remuneração, por exemplo) não são suficientes para enfrentar as causas que geram apatia ou desmotivação do servidor público. Até por isso mesmo, eles finalizam ressaltando a importância de um modelo próprio para gestão pública que além de eficiente, seja justo.

(8) Apreciação crítica - duas perguntas.

O artigo traz uma reflexão importante que condiz com a realidade da gestão de pessoas no setor público atualmente. As considerações apresentadas pelos autores são pertinentes e, nesse sentido, é possível perceber também uma boa fundamentação teórica que consegue discutir tanto a gestão em um sentido mais amplo quanto as especificidades de um modelo de gestão para as organizações públicas. Compreende-se, assim, que as colocações construídas sobre o modelo alternativo precisam ser mais discutidas por essa área do conhecimento e, portanto, merecem aprofundamento. Seguem as perguntas:

-O artigo critica fortemente a importação de modelos da gestão de pessoas advindos do setor privado para as organizações públicas. Considerando que essa importação é uma realidade no setor público, quais as consequências para o servidor público e, mais ainda, para os direitos (muitas vezes nomeados “serviços”) dos cidadãos?
-Os autores apresentam os elementos que consideram relevantes para o modelo alternativo de gestão de pessoas direcionado às organizações públicas, contudo, nomeiam alguns pressupostos que podem ser considerados idealistas de um ponto de vista mais pragmático. Portanto, cabe pensar: para além dos fundamentos teóricos que permitem construir essa crítica tão necessária, existem práticas imediatas cabíveis de serem implementadas para evitar a reprodução de um modelo inapropriado?



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