SIQUEIRA,
M. V. S.; MENDES, A. M. Gestão de pessoas
no setor público e a reprodução do setor privado. Revista do Serviço
Público, Brasília. v . 60, n. 3, p. 241-250, jul./set., 2009.
Gestão nas organizações
públicas: modelo alternativo para autonomia
Guilherme Augusto de Oliveira Freire
(1)
Contexto/problematização
relacionado ao tema.
O artigo apresenta considerações a respeito da
gestão organizacional como um todo a fim de discutir as particularidades da
gestão de pessoas nas organizações públicas. Para isso, os autores enfatizam as
especificidades da gestão pública, problematizando, então, a “importação” da
lógica de gestão privada para as organizações públicas e defendendo que o
modelo privado não condiz com a realidade e as necessidades públicas.
(2)
Relevância e justificativa.
A pesquisa justifica-se por tratar da gestão de
pessoas em organizações públicas por uma perspectiva crítica, apontando, assim,
a importância de modelos específicos para esse âmbito. Dessa maneira, sua
relevância está na proposição de um modelo alternativo para essas organizações.
(3)
Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.
O artigo em questão não apresenta um problema
de pesquisa delineado, contudo, problematiza-se a implantação de modelos de
gestão copiados da iniciativa privada no setor público. Assim, o objetivo geral
é analisar criticamente o “discurso
contemporâneo em gestão de pessoas, verificando como discurso e prática
gerencialistas se reproduzem no setor público, sem que haja a devida análise do
fator ideológico que permeia a gestão privada”.
(4)
Referencial teórico.
Tópicos
|
Detalhamento
|
Autores
|
Considerações
acerca do imaginário organizacional moderno
|
-Gestão
atual "doente", tem seu papel, sua função na organização e
racionalização, porém, invade outras esferas da vida;
-Lógica
da gestão privada como solução para o Estado e terceiro setor;
-Estratégia
da flexibilização: tudo é flexibilizado, tornando o emprego temporário e
precarizado para atender as necessidades de adaptação do mercado;
-Empregado:
deve colocar o trabalho como prioridade na vida, triunfo da ideologia de
realização de si mesmo;
-Ideologia
gerencialista: tem fundamentos na quantificação e os valores perdem
importância em função da racionalidade instrumental;
-Violência
simbólica desse processo está na esfera individual e coletiva;
-Organização
faz uso de operações para conseguir comprometimento do indivíduo: sedução e
fascinação substituem o ideal de ego do indivíduo pelo organizacional;
-Discurso
do superexecutivo de sucesso: dedicação única à organização e ao trabalho,
fusão da identidade pessoal com a funcional e participação na tomada de
decisões.
|
Gaulejac
(2006), Chanlat (1996), Enriquez (1997), Levy (2001), Siqueira (2006).
|
Modelos de gestão em ação
|
-Modelos
de gestão para as organizações públicas: constatação da importação de modelos
do setor privado que não condizem com a realidade pública;
-Modelos
gerenciais: carregados de carga de dominação inserida nos processos
produtivos e administrativos;
-Controle
é sutil: alcança a subjetividade do indivíduo que, por sua vez, não percebe o
caráter controlador do modelo;
-Gestão
de competência: modelo em voga que é um exemplo de discurso hegemônico em
gestão de pessoas;
-Novo
modelo de gestão de pessoas: necessário, tarefa complexa que exige reconhecimento
das diferentes estruturas de funcionamento do ser humano;
-Abordagem
psicodinâmica do trabalho: oferece as bases para a construção de espaços
organizacionais que considerem as diferentes dimensões, dentre elas: técnica,
de organização, social, de ordenamento, ética e da linguagem.
|
Miranda
et all (2008), Diniz e Vieira (2008), Faria e Leal (2007), Heloani e Lancman
(2004).
|
(5)
Metodologia.
Elementos da pesquisa
|
Detalhamento
|
Autores
|
Tipo
de pesquisa
|
Teórica
|
-
|
Abordagem
|
Qualitativa
|
-
|
Método
de pesquisa
|
Pesquisa
teórico-bibliográfica
|
-
|
População/Amostra
|
--
|
--
|
Unidade
de Análise
|
--
|
-
|
Unidade
de Observação
|
--
|
-
|
Coleta
de Dados
|
--
|
--
|
Análise
de Dados
|
Revisão
bibliográfica
|
--
|
(6)
Resultados.
O artigo em questão se organiza a partir de uma
revisão teórico-bibliográfica, portanto, não possui em sua estrutura a
apresentação de resultados, uma vez que não se trata de uma pesquisa prática
e/ou empírica. Contudo, os autores trazem apontamentos a respeito do modelo
alternativo considerado apropriado para a gestão no setor público: devem se
embasar em fundamentos da psicodinâmica do trabalho, permitindo assim, a
construção de espaços organizacionais abertos para escuta e para fala e
voltados para a troca e a discussão, assim como para o compartilhamento.
(7)
Considerações finais.
Os autores concluem reconhecendo a necessidade
da gestão de pessoas no âmbito do setor público, contudo, enfatizando a
importância de que seja construído um modelo próprio para as organizações
públicas. Também destacam a necessidade de revisão dos modelos de gestão de
pessoas de uma forma geral, salientando que mudanças pontuais na área de
recursos humanos (como na remuneração, por exemplo) não são suficientes para
enfrentar as causas que geram apatia ou desmotivação do servidor público. Até
por isso mesmo, eles finalizam ressaltando a importância de um modelo próprio
para gestão pública que além de eficiente, seja justo.
(8)
Apreciação crítica - duas perguntas.
O artigo traz uma reflexão importante que
condiz com a realidade da gestão de pessoas no setor público atualmente. As
considerações apresentadas pelos autores são pertinentes e, nesse sentido, é
possível perceber também uma boa fundamentação teórica que consegue discutir
tanto a gestão em um sentido mais amplo quanto as especificidades de um modelo
de gestão para as organizações públicas. Compreende-se, assim, que as
colocações construídas sobre o modelo alternativo precisam ser mais discutidas
por essa área do conhecimento e, portanto, merecem aprofundamento. Seguem as
perguntas:
-O artigo critica fortemente a importação de
modelos da gestão de pessoas advindos do setor privado para as organizações
públicas. Considerando que essa importação é uma realidade no setor público,
quais as consequências para o servidor público e, mais ainda, para os direitos
(muitas vezes nomeados “serviços”) dos cidadãos?
-Os autores apresentam os elementos que
consideram relevantes para o modelo alternativo de gestão de pessoas
direcionado às organizações públicas, contudo, nomeiam alguns pressupostos que
podem ser considerados idealistas de um ponto de vista mais pragmático.
Portanto, cabe pensar: para além dos fundamentos teóricos que permitem
construir essa crítica tão necessária, existem práticas imediatas cabíveis de
serem implementadas para evitar a reprodução de um modelo inapropriado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário