sábado, 18 de abril de 2020

NOVAS ABORDAGENS NO MUNDO CORPORATIVO


RESENHA: LEMOS, A. H. C., PINTO, M. S., SILVA, M. A. C. Mal-estar nas organizações: por que os jovens estão abandonando o mundo corporativo? RACE, Joaçaba, v. 16, n. 2, p. 703-728, maio/ago. 2017. Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/race>.

Guilherme Augusto de Oliveira Freire

(1)          Contexto/problematização relacionado ao tema.
                 
O artigo aborda o tema da rotatividade da força de trabalho, especialmente, nas camadas mais jovens da população. Assim, os autores buscam problematizar os motivos que levam a alta troca de emprego nas novas gerações e, ainda, as possíveis razões para seu afastamento das grandes empresas privadas tradicionais com o intuito de se dedicaram a atividades em outras áreas.

(2) Relevância e justificativa.

O estudo justifica-se por tratar de um tema de importância significativa tanto socioeconomicamente quanto organizacionalmente. Portanto, a relevância do artigo está em sua contribuição, uma vez que entendendo as motivações dos jovens para o afastamento das grandes empresas é possível atuar para diminuir a taxa de rotatividade no mercado de trabalho e contribui-se também para que as empresas possam conhecer e reter de maneira mais apropriada esses potenciais profissionais.

(3) Problema de pesquisa, objetivo geral e específicos.

O artigo delimita como problema de pesquisa o questionamento tanto da alta rotatividade das novas gerações nos empregos quanto da migração desses profissionais para outros setores e empresas, ou seja, a troca de opção de carreira. O objetivo principal delineado foi compreender os motivos que levam os jovens a rejeitar empregos em empresas privadas tradicionais e optarem por carreiras em outras bases (como setor acadêmico e público ou no empreendedorismo).

(4) Referencial teórico.

Tópicos
Detalhamento
Autores
A Geração Y
-Geração dos nascidos entre 1980 e 2000;
-Características da geração: dinamicidade, busca por desafios, flexibilidade, autonomia e participação, ambiente descontraído.
-Ligação com tecnologia e necessidade de conexão;
-Importância do feedback: querem saber sobre seu desempenho;
-Desejos e valores da geração Y: prazer no ambiente de trabalho, desejo por flexibilidade, necessidade de ter bons relacionamentos interpessoais e maior preocupação com os aspectos ligados à responsabilidade social;
-Heterogeneidade dos perfis, mesmo com entrevistados do mesmo socioeconômico e de escolaridade;
-Crítica às generalizações feitas na literatura sobre a geração Y.
Tulgan (2009), Alsop (2008); Cennamo e Gardner (2008), Vasconcelos et al. (2010), Lipkin e Perrymore (2010); Veloso; Silva e Dutra (2012), Erick­son (2008), Cavazotte; Lemos e Viana (2012), Sá; Lemos e Cavazotte (2014), Lemos (2012), Oliveira; Piccinini e Bitencourt (2012).

O Sentido do Trabalho
-Foco na distinção entre o sentido e o significado do trabalho;
-A pesquisa adota a diferenciação que associa o significado a interpretações socialmente compartilhadas e o sentido como individual.

-Trata o sentido do trabalho como um fenômeno dinâmico e multidimensional;
-Classifica três dimensões do trabalho: individual, organizacional e social;
-Destaca elementos importantes para o sentido do trabalho: clareza dos objetivos, estruturação do trabalho, utilidade do trabalho;
-A clareza em relação aos objetivos do trabalho: contribui para dotar o trabalho de sentido;
-A estruturação do trabalho: organização eficiente também o importante para sentido;
-A utilidade do trabalho: pode ser o reconhecimento da utilidade para a organização, para outros indivíduos e/ou para a sociedade;
-Salienta que são poucos os trabalhos que abordam a questão das diferentes gerações e dos sentidos do trabalho.
Rosso; Dekas e Wrzesniewski (2010), Andrade; Da rosa e Dellagnelo (2012), Tolfo e Piccinini (2007), Cavazotte; Lemos e Viana (2012), Teixeira et al. (2014), Oliveira et al. (2004), Morin; Tonelli e Pliopas (2007), Mow (1987).


(5) Metodologia.

Elementos da pesquisa
Detalhamento
Autores
Tipo de pesquisa
Exploratória e descritiva.
-
Abordagem
Qualitativa.
-
Método de pesquisa
Pesquisa teórico-bibliográfica e entrevista em profundidade.
-
População/Amostra
Técnica “bola de neve”: Seleção de doze jovens nascidos a partir de 1980 com experiência prévia no mundo corporativo privado e que abandonaram seu emprego nessas empresas em busca de outros caminhos profissionais.
-



Unidade de Análise
Analisa as transcrições das entrevistas em profundidade.
-
Unidade de Observação
--
-
Coleta de Dados
Entrevistas em profundidade.
-
Análise de Dados
Análise de conteúdo.
Bardin (2009).


(6) Resultados.

Os resultados encontrados alinham-se com a literatura, ou seja, os jovens entrevistados apontam, em geral, as mesmas razões encontradas nas referências, a saber: pouca autonomia decisória, pouca flexibilidade e insatisfação com o trabalho. Contudo, o artigo também destaca que os entrevistados salientaram ainda outros aspectos, como o anseio por segurança (que contraria o estereótipo da juventude como propensa a riscos) e, principalmente, a constante busca de sentido no trabalho. A análise de conteúdo realizada teve enfoque nos seguintes pontos:
-A valorização da autonomia: luta contra o cerceamento da liberdade;
-Busca de melhoria da qualidade: desejo de conciliar suas vidas pessoal e profissional;
-Rejeição à falta flexibilidade: de horário, de local e jornada de trabalho;
-Rejeição ao trabalho desprazeroso: ênfase no ambiente de trabalho que oferece desafios e realizações;
-Anseio pela segurança no trabalho: busca pela estabilidade no futuro;
-Rejeição ao trabalho sem sentido: uma questão que, segundo o artigo, não é abordada na literatura e que tem muita importância para os jovens atualmente. Conforme os autores do artigo, esse ponto tem a ver tanto com a percepção do trabalho apenas como "sobrevivência", como trabalho alienado quanto com a percepção do trabalho como sem utilidade.

(7) Considerações finais.

Os autores concluem que apesar dos apontamentos apresentados se alinharem, em geral, com a literatura sobre o tema, foram encontradas também percepções novas. Portanto, aponta-se como contribuição a ênfase na insatisfação do trabalho sem sentido, muito destacada pelos entrevistados. Assim, os autores concluem que o tema do sentido do trabalho tem grande relevância para os jovens. Por fim, o artigo aponta certa tendência de desgaste do modelo de trabalho e carreira tradicional, salientando a necessidade das empresas de repensarem suas estratégias de atração e retenção dos profissionais jovens.

(8) Apreciação crítica - duas perguntas.

O artigo em questão aborda um tema muito importante em tempos atuais, principalmente, dadas as condições e a realidade trabalhista em que vivemos. O enfoque na geração “Y” também é muito oportuno para se pensar o futuro do mercado de trabalho, afinal, é preciso que as empresas comecem a se atentar para os fatores apontados no artigo a fim de se construir um ambiente de trabalho mais alinhado aos anseios e valores descritos. Nesse sentido, podemos também pensar que, enquanto algumas abordagens desse tema sempre se apoiam na adaptação do trabalhador às exigências das empresas, o presente artigo traz uma perspectiva interessante, buscando destacar que é preciso também pensar no que é importante para os profissionais. Seguem as perguntas:
-A busca pelo “sentido do trabalho” conforme delineado no artigo tem, é claro, sua importância, especialmente, em nossa sociedade cada vez mais hierarquizada. Contudo, podemos pensar que a rejeição a certas carreiras e o abandono de postos de emprego em prol dessa busca é realmente uma realidade acessível às diferentes camadas da população? Portanto, poderia ser considerado um movimento elitista?
-O artigo tem ênfase, basicamente, em três tipos de carreiras: a acadêmica, a pública e o empreendedorismo. Considerando que duas dessas carreiras (acadêmica e pública) tem enfoque voltado para o coletivo, particularmente, prestando-se serviços diretos à sociedade, podemos entender que as pessoas têm se preocupado mais com a sua atuação no mundo? Isso pode ter relação com algum engajamento político e social mais amplo?



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