sábado, 18 de abril de 2020

ADMINISTRAÇÃO E TEORIAS DAS ORGANIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: RUMO A UM HUMANISMO RADICAL CRÍTICO?


MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO – UNIHORIZONTES
TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES
Professor: Luiz Carlos Honório
RESENHA: Administração e teorias das organizações contemporâneas: rumo a um humanismo radical crítico?

AKTOUF, Omar. Administração e teorias das organizações contemporâneas: rumo a um humanismo radical crítico?. Organ. Soc. [online]. 2001, vol.8, n.21, pp.13-33. ISSN 1413-585X.  https://doi.org/10.1590/S1984-92302001000200001.

O autor dispõe que as inúmeras publicações a respeito de administração visam revolucionar esta ciência, mas, para conhecer melhor tais ideias seria necessário entender conceitos como o radicalismo, humanismo-radical e a visão conflitual dialética, vez que propõe um questionamento acerca do papel determinante das pessoas, em coesão, compromissadas e motivadas em prol de um interesse organizacional.
Ao analisar alguns escritos da década de 70, ligados às teorias clássicas da administração, aponta que tais textos mencionavam a proposta de produzir mais gastando menos, já o modelo japões, rezava sobre a qualidade total e a cultura da empresa, com coesão dos níveis hierárquicos e visando uma produção melhor ao invés de maior.
De toda forma, o autor percebe que, até mesmo Taylor, Fayol e Mayo já descreviam a importância do trabalho em equipe, do diálogo, incentivo, participação, criatividade e, principalmente, do fator humano, apensar de ignoradas pelo aspecto de larga produção com custo reduzido. Consequentemente, indaga o escritor se há algo novo a respeito na teoria humanista, posto que não houve mudança que elevasse o homem ao lugar de protagonista do processo produtivo.
Registra ainda que não é fácil de uma organização alcançar essa postura relacionada ao humanismo, sendo importante uma prática administrativa que rompa a concepção de tratamento do ser humano no trabalho como instrumento de produção, possibilitando ao empregado participar, colaborar e fazer seus, os objetivos da empresa.
O empregado deixaria de ser uma “peça passiva obediente” para um “colaborador cumplice ativo” da organização, com autonomia e motivação, o que o liberaria da alienação e exploração, mas ressalta que, essa mudança cultural não será obtida sem contraprestação financeira ao trabalhador.
Na sequência, Aktouf diferencia o humanismo do humanismo-radical, o qual seria uma revisão e complementariedade de teorias de grandes pensadores, especialmente, o marxismo. Ato seguinte, o autor elenca alguns autores que clamam por uma revolução da administração, mais humana e focada no trabalhador colaborador cumplice ativo e enumera alguns dificultadores da prática da sua teoria.
Aktouf expõe que predomina nas organizações a cultura da qualidade total, mas sem a visão do homem por inteiro e indica que a empresa inteligente é aquela composta de diferentes inteligências individuais, motivadas pelo desejo de colaborar, inventando soluções originais e enfrentando a complexidade contemporânea.
Para o autor a empresa precisa ser um local de parceria e acordo, local de trabalho e não de uso intensivo da força de trabalho e, para isso, seria preciso, além de uma mudança comportamental, ligar o empregado aos lucros, desligando-o do salário, o qual o torna mercenário em uma atividade sem alma.
Destaca também que essas alterações advêm de posturas culturais históricas, como no Japão em que a sociedade preza pela solidariedade e coletivismo, não sendo simples a vontade de mudança imediata do empregado ocidental, acostumado com um modelo pouco participativo e de um empregador que não abre mão do poder e controle.
Conclui o autor que, paradoxalmente, a tese marxista (teoria da alienação, da mais valia e do trabalhador vivo) possibilitará a organização encontrar respostas a seus dilemas, renunciando ao poder, aos direitos advindos da propriedade, a gestão unilateral, privilégios exclusivos para um caminho em direção a uma produção organizada e partilhada que suscita o empenho e interesse pelo sentido dado ao trabalho cotidiano de cada um. Neste sentido, o trabalhador seria protagonista, cogestor, à revelia do capital.
Cita ainda duas empresas modelos fáticos de aplicação do humanismo-radical, em um contexto de diálogo constante, distribuição de lucros e convivialidade generalizada, enfatizando a necessidade urgente de uma participação real e concreta do trabalhador, com maior autonomia e polivalência para que a empresa saia da estagnação da produtividade.
O texto deixa claro que a imperiosidade de se substituir métodos coercitivos para uma gestão humanizada, participativa e ativa dos empregados, vez que implicará na sobrevivência assertiva das organizações, expõe, também, as dificuldades em se aplicar a teoria da humanidade-radical e alguns caminhos a serem percorridos para o achatamento da pirâmide hierárquica.
Um outro ponto a se levar em consideração é que esta forma de gestão depende da formação da pessoa, suas competências e abertura a mudanças comportamentais e culturais, portanto, tem-se que a metodologia para a aplicação da teoria depende de cursos de qualificação profissional que cientifiquem, expliquem e permitam a análise e a criação de ambientes como o proposto pelo autor.
Seria intrigante e interessante a análise e aplicação da taxonomia de Bloom, voltada ao humanismo radical,em um viés de gestão da organização, posto que trabalha conceitos próximos aos do humanismo radical.
Nesse sentido, questiona-se a possibilidade da criaçãode projeto de desenvolvimento educacional na formação básica do ser humano como cidadão (nível escolar) e profissional (nível graduação) engajado no âmbito social e empresarial, apto e disposto a trabalhar as competências inerentes ao modelo de gestão proposto por Aktouf, em um contexto de fala, escuta, aprendizado, convivialidade e partilha.

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