quinta-feira, 4 de junho de 2020

RESENHA DOS DOIS PRIMEIROS CAPÍTULOS DO LIVRO GERANDO VALOR PARA O ACIONISTA

RESENHA DOS DOIS PRIMEIROS CAPÍTULOS DO LIVRO GERANDO VALOR PARA O ACIONISTA

 

Guilherme Augusto de Oliveira Freire

 

RAPPAPORT, A. Gerando valor para o acionista. São Paulo: Atlas; 2001.

 

Já no primeiro capítulo do livro o autor explica sobre a geração de valor para o acionista e apresenta sua análise de definição do valor como variante absoluta para mensuração do desempenho de uma empresa em expectações futuras. As aplicações de valor nos próprios ativos, até meados dos anos 80, dificultaram a algumas empresas quanto a sua evolução. Ao mesmo tempo que as empresas que atentavam que a geração de valor junto ao acionista era mais bem especulada, que análises sem o aval dos intérpretes do investimento, evitando o que as empresas que não observaram o que os acionistas ansiavam, chamado de “lacuna de valor”.

O grande volume de aquisições agressivas na segunda metade da década de 80, contribuiu muito para o incentivo aos gestores, quanto a criação de valor das empresas. Estas aquisições realizadas no decorrer da década de 80 e a ausência do  operador de bolsa (referência principal do investidor profissional), como o conhecedor de mercado, deu possibilidades aos gerenciadores de fundos investirem de forma a protegerem seus beneficiários e conseguir melhores resultados para seus investimentos. O valor dado às empresas começou a fazer parte de todos os relatórios de desempenho e estratégia no mercado, e passou a ser o referencial mais importante de uma empresa.

Observa-se a princípio um conflito inicial entre o gerente gestor e o acionista. Até a metade dos anos 80, o gerente gestor, tinha a decisão em suas mãos, era o único responsável pelas definições sem levar em consideração o que almejava os acionistas. O administrador assume o posto de condutor da gestão e não de detentor dos ativos. Com este cenário de geração de valor para o acionista, ele passa então a perceber que o valor produzido em equilíbrio com a demanda do mercado (tanto no social e em quaisquer outras áreas), é exatamente o que irá fazer com que o administrador continue na direção da organização. A partir de então o jogo é delineado pelos acionistas apesar do administrador dominar as regras do jogo.

Embora a responsabilidade social da empresa e os defensores de quem é interessado por ela se divergem muitas vezes, todos convergem no entendimento que a empresa possui propósitos que não sejam somente a otimização de criar valor para os acionistas. Na década de 90, equilibrar os interesses de todos que mantêm proveito na empresa requer maior atenção. Uma empresa que obtém maximização de retornos, favorece não simplesmente seus acionistas, mas da mesma forma atende às outras exigências daqueles que conservam interesse na organização. Dado a este parecer, é fundamental o engajamento dos stakeholders como parceiros, para criação de valor.

A garantia de fluxo de caixa de uma empresa a longo prazo reflete na satisfação de seus clientes, mas importante se atentar para não oferecer mais valor do que os clientes estarão dispostos a pagar, podendo até se tornar impraticável a operação. A dificuldade de se manter no mercado a longo prazo, oferecendo ao cliente um produto de qualidade e com preço razoável, pode trazer impedimentos ao caixa do acionista em médio prazo. No confronto em um conflito do valor do cliente x valor para o acionista, a gestão deve se posicionar a favor dos acionistas e da possibilidade de longo prazo do negócio.

No confronto entre os interesses dos empregados e dos acionistas, retratam um desafio consideravelmente mais dificultoso. Com os avanços tecnológicos, competitividade no mercado nacional e internacional, por conta da globalização, terceirização na produção (trazendo menores custos), com oportunidade de fabricar produtos melhores fez com que os gestores diminuíssem o tamanho de suas empresas a fim de melhorar sua competitividade. Em muitos casos, a demissão se deu por conta do fracasso da gestão atual ou anterior, na tentativa de gerar valor somente para o acionista. Os competidores globais estão agregando aos seus processos de planejamento e de tomada de decisão, a implementação do valor para o acionista, portanto não deve ser mirada como uma vantagem sustentável ou exclusiva. Os acionistas procuram pelas melhores formas de produção, o que é exigido pelo mercado, enquanto as políticas de demissão podem impactar no valor da ação no mercado. Todavia fica evidente no texto que pode gerar custos irreversíveis para a empresa em médio e longo prazo, evitar cortes de postos de trabalho, quando necessário.

Em torno de 40% dos lares norte-americanos dispõe de ações individuais ou fundos mútuos. Milhões de empregados têm interesse indireto no desempenho das ações, frente sua participação em planos de pensão de benefício definido, proporcionados pelos seus patrões. A segurança dos aposentados está pautada nos dividendos e na valorização dos preços das ações. Diante deste contexto, a constituição do mercado atual se faz também de acionistas de pequenos porte. Cabe ao acionista maior o gerenciamento de forma adequada daquilo que pode ter o valor maximizado para toda a cadeia de investidores.

No capítulo dois é apresentado as deficiências dos números contábeis, apresentando valores ocultos que a contabilização pode deixar de perceber e, consequentemente impactar negativamente nos resultados. Há uma crença que estes resultados são os responsáveis pela valorização da empresa no mercado, por se tratar exclusivamente do lucro. Para tal, enumera-se deficiências nas contabilidades que anteveem retorno sobre o investimento – ROI, e retorno sobre o patrimônio líquido – ROE.

Alega-se, em princípio de análise, que a contabilização do lucro por vezes, pode deixar de mencionar alguns valores importantes para a fidedignidade do resultado, levando a crer que o lucro não é um dado confiável. Alguns métodos contábeis alternativos contribuem para tal, pois deixam de analisar perdas implícitas. O chamado “primeiro que entra, primeiro que sai” (FIFO ou PEPS), ou “último que que entra, primeiro que sai” (LIFO ou UEPS) deixam de considerar, por exemplo, a depreciação ou tratamentos contábeis para fusões ou aquisições. Tais considerações são geradas na tentativa de confrontar custos e receitas, ignorando-se consciente ou inconscientemente, por exemplo, “a depreciação de um ativo ao longo de sua vida útil”, segundo RAPPAPORT, 2001, p.31.

Excluir as necessidades de investimento como gasto, é outro fator que erroneamente, não é considerado na mensuração do lucro. Outro elemento importante que também costuma ser ignorado é o valor do dinheiro no tempo e pode fazer enorme diferença.

As questões referentes ao retorno contábil sobre os investimentos, ROI, e seus problemas adicionais, pode fazer com que sejam alocados erroneamente os recursos. A análise correta sobre o patrimônio líquido, ROE, apresenta o risco imediato ao mercado, da empresa que investe e ampara a alavancagem, pois a bolsa de valores compreende que a operação de risco pode fazer com que a ação caia. Muitas vezes o investidor trabalha com dinheiro proveniente de empréstimos que podem não se sustentar a longo prazo.

Nesta resenha o autor mostra o sentido da lógica do acionista na gestão da empresa e a sua relação com a responsabilidade social em níveis corporativos ou não. É demonstrado também por ele, a importância de respeitar os anseios dos seus Stakeholders, a necessidade de interação das partes, uma atualização do mundo moderno, quando da publicação do livro. São mapeados os conflitos com os gestores da empresa, onde se apresenta os embaraços de entendimento de ambas as partes, ou seja, é uma “estrada de mão dupla”.

É demonstrado também nestes capítulos a incapacidade em se gerir o balancete da empresa sem antes levar em consideração as alterações no valor para o acionista. Outro ponto também é a confiabilidade diante das mudanças no valor contábil de algumas empresas, entre outras coisas. Na prática, é apresentado que, podemos concluir que os números contábeis fracassam na mensuração da geração de valor de empresas que utilizam de métodos contábeis alternativos. Em uma última análise, “o problema é o uso inapropriado e não intencional de números contábeis históricos por gestores e investidores para a avaliação baseada em expectativas”, segundo RAPPAPORT, A.

 

 


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