quinta-feira, 4 de junho de 2020

RESENHA: EVOLUÇÕES NA ÁREA DE FINANÇAS

Guilherme Augusto De Oliveira Freire

IQUIAPAZA, R. A., AMARAL, H. F., & BRESSAN, A. A. Evolução da pesquisa em finanças: epistemologia, paradigma e críticas. Organizações e Sociedade, Salvador, 16 (49), 351-370.

 

O artigo é uma revisão bibliografia da história e evolução epistemológica da área de finanças, os autores fazem um apanhado geral de como foi construído o pensamento financeiro e historicamente, citam autores importantes e emblemáticos da teoria de finanças, economia, macroeconomia e microeconomia, começam a abordar essa evolução a partir dos anos 1950, por onde eles marcam como “revolução em finanças”, embora os estudos da área começam a ser descrita nos anos 1920, principalmente antes da quebra da bolsa de 1929, Costa (2008) diz que esse período foi caracterizado pela expansão gerada na revolução industrial e passando pela grande crise econômica de 1929 e pela reconstrução dos mercados após a segunda guerra mundial. Ele ainda fala do ápice econômico americano, onde suas empresas precisavam de capital para expandir onde se desenvolveu o período da preocupação com a estrutura de capital da empresa, Famá, Cioffi e Coelho (2008) chamam esse período de finanças antigas, o período que os autores começam sua abordagem é da década de 1950, descrito por alguns autores como Famá, Cioffi e Coelho (2008), Castro Junior (2002) e Bernstein (2008) que também são citados pelos autores como “Finanças modernas”. Os autores realmente fazem um bom trabalho definindo essa parte da história, o embasamento teórico é forte e consolidado com outros estudiosos da área, como McLean e Jones (2007), Mramor e Lonèarski (2002), (DONALDSON, 1961), Gordon (1959) e Lintner (1956), o caminho que eles seguiram é interessante, pois demonstrando mais as questões de interações financeiras e mudanças nos mercados de capitais, a abordagem tradicional pré década de 1950 é como os autores exemplificam “em grande parte, descritiva e detalhada no conteúdo institucional”,  tinham poucas generalizações e, com objetivo de ser importante na aplicação pratica em períodos longos de tempo, na abordagem tradicional a política de dividendos estava muito clara e simples, as companhias deveriam distribuir os lucros da melhor forma possível, na forma de dividendos em dinheiro, desde que os investidores prefiram dividendos a ganhos futuros de capital, os autores embasam o posicionamento de Gordon (1959), os investidores acreditam que os ganhos futuros de capital são mais incertos que os dividendos, tendo, portanto, um valor mais baixo, o que demonstra a falta de dinamismo e audácia da época. O começo da mudança do paradigma tradicional tem como base as contribuições feitas por Markowitz com sua publicação sobre a diversificação de portfólio em 1952. Bernstein (1997) classifica a metodologia de Markowitz como uma síntese das Teorias das Probabilidades, da Amostragem, da Curva de Sino e Dispersão ao Redor da Média, da Regressão à Média e da Teoria de Utilidade. O principal objetivo de Markowitz com a Teoria do Portfólio foi utilizar a noção de risco para formar carteiras para investidores que considerem o retorno como algo desejável e a variância do retorno como algo indesejável, os autores colocam do lado de Markowitz outros autores que mudaram o modo de pensar finanças como Kendall (1953), Modigliani e Miller (1958) e Sharpe (1964), McGoun (1992) afirma que a publicação dos artigos Markowitz (1952) e de Modigliani e Miller (1958) são fundamentais para essa mudança de paradigma, tendo provocado uma revolução acadêmica na economia financeira. Passou-se a utilizar processos de simplificação, matematização e modelagem, tendo um profundo impacto no modo como os economistas financeiros têm procedido até hoje. Markowitz ganhou o prêmio Nobel de economia em 1990 por seu trabalho. A modernização dos estudos em finanças passa pela busca da funcionalidade de ditar explicações lógicas e racionais a sociedade, os autores do texto colocam esse ponto de forma clara quando demonstram a evolução nos estudos e quando falam sobre como “A ciência provê a base para estruturar a ordem do mundo social, semelhante à estrutura e ordem do mundo natural. São usados os métodos das ciências naturais para gerar explicações do mundo social” e utilizam o positivismo de Dukheim para demonstrar o ponto de vista, para Dukheim “um todo não é idêntico à soma das partes que o constituem; é algo de diferente cujas propriedades diferem das que revelam as partes de que é composto” (Durkheim, 1978b, p. 139) o que corrobora com a fala dos autores sobre os funcionalistas, “as propriedades do conjunto são determinadas pelas propriedades de suas unidades”.

A evolução da teoria financeira parte de estudos da análise do comportamento de preços de ativos e de como se comporta aleatoriamente sendo não sendo mais previsível Fama (1965), aliado a estudos de diversificação da carteira de ativos e de como as ações são precificadas em relação ao seu risco. Essa teoria denominada de Capital Asset Price Model (CAPM), tem forte relação com a teoria do portfólio de Markowitz, pois formulada por um de seus estudantes, William Sharpe, Megliorini e Vallim (2009) a descrevem como uma simplificação da Teoria do Portfólio, ela mostra que as taxas de retorno em equilíbrio dos ativos de risco são uma função de suas covariâncias com a carteira de mercado. Eles ainda falam que em mercados como o brasileiro onde os investidos são diversificados e os mercados interligados o CAPM é amplamente utilizado.

Os autores falam bastante sobre todas as teorias abordadas nessa época o que demonstra o amplo desenvolvimento acadêmico do período onde realmente se consolidou o desenvolvimento acadêmico financeiro.

Percebe-se como os autores demarcam os pontos chave para o desenvolvimento da teoria de finanças, as chaves ficam bem explicativas e de forma que todos possam compreender que o caminho para a evolução foi dado pelo desenvolvimento das finanças como disciplina, separando-se da economia e tendo maior autonomia e protagonismo na academia, depois a legitimidade e consolidação dos mercados, com regras mais claras e transparência nas negociações, e por fim da separação da visão do mercado financeiro como um jogo de azar, onde os investimentos tem fundamentos e não seguem os dados para se obter resultados.

O texto tem uma pequena parte confusa na seção sobre a Pós-modernidade, os autores questionam sobre a mudança no paradigma descritivo de finanças pelo performático e dentro outros utilizam Mackenzie (2001) e Austin (1990) para sustentar seus pontos de vista, mas fica claro que aliar as métricas matemáticas a teoria de finanças faz com que a questão performática se desenvolva, pois principalmente com a tecnologia se obtém uma facilidade de medir, avaliar e buscar otimização de investimentos e do próprio mercado. Para Mellagi e Ishikawa (2012, p. 114), “qualquer sistema financeiro está em constante mudança, junto com a evolução da própria economia e seus ciclos”, os autores utilizam Merton (1992, p.470) para fortalecerem essa tese que dá mais clareza.

O desenvolvimento do campo de finanças chega nas finanças comportamentais, os autores falam bastante de Kahneman e Tversky mas acho que deixaram um nome importante de fora, Herbert Simon foi um dos percursores no processo de tomada de decisão e estudo do comportamento humano, para Simon (1959), a ideia subjacente ao conceito de maximização é de um comportamento de equilíbrio de um organismo com perfeita adaptação, que depende apenas de seu objetivo. Mas se o ambiente apresentar alterações, se existirem múltiplos objetivos ou, ainda, se o organismo for afligido por conflitos internos, o conceito de maximização não se mostra promissor, e claro que os autores detalham mais sobre o assunto e colocam a discussão mais densa, é interessante como eles fazem isso, principalmente do confronto entre finanças modernas continua e finanças comportamentais, mesmo que o texto seja escrito em 2009, acho que deixa de lado uma técnica importante, pois podemos utilizar inteligência artificial para desenvolver e melhorar tanto o campo de finanças comportamentais como de finanças modernas, estudos como o de Trippi e Tuban (1992), no geral o texto é interessante, consegue-se ver a contribuição dos autores e de como é feito um belo desenvolvimento histórico da área de finanças, acho o texto fácil de ler e contribui principalmente para estudiosos pela área e entusiastas de finanças.

 

REFERÊNCIAS

BERNSTEIN, P. L. Desafio aos Deuses: a fascinante história do risco. Rio de Janeiro. Campus, 1997

CASTRO JUNIOR, F. H. F. As novas finanças e a teoria comportamental no contexto da tomada de decisão sobre investimentos. Caderno de pesquisas em administração, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 25- 35, 2002.

COSTA, T.A. Dissertação Novas Finanças: um estudo sobre a fragilidade da Hipótese de Mercado Eficiente. São Paulo. 2008.

DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Abril Cultural, 1978.

FAMÁ, R; CIOFFI, P. L.M.; COELHO, P. A. R. Contexto das Finanças Comportamentais: Anomalias e Eficiência do Mercado de Capitais Brasileiro. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 65-78, abril/junho 2008

MARKOWITZ, H. Portfolio selection. Journal of Finance, v. 7, n. 1, p. 77-91, 1952.

McGOUN, E. G. On knowledge of finance. International Review of Financial Analysis, v. 1, n. 3, p. 161-177, 1992.

MELLAGI FILHO, Armando. ISHIKAWA, Sérgio. Mercado Financeiro e de Capitais. 2ª Edição. São Paulo: Atlas, 2012.

MEGLIORINI, E.; VALLIM, M. A. Administração Financeira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

SIMON, H.A. (1978). Rational Decision-Making in Business Organizations. Nobel Memorial Lecture, pp. 343- 371, 08.12.1978. Economic Science, 1978

TRIPPI, R. R. e TUBAN, E., Neural networks in finance and investing. Chicago: Probus, 1993.

 


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