Guilherme
Augusto De Oliveira Freire
IQUIAPAZA, R. A., AMARAL, H. F., & BRESSAN,
A. A. Evolução da pesquisa em finanças: epistemologia, paradigma e
críticas. Organizações e Sociedade, Salvador, 16 (49),
351-370.
O
artigo é uma revisão bibliografia da história e evolução epistemológica da área
de finanças, os autores fazem um apanhado geral de como foi construído o
pensamento financeiro e historicamente, citam autores importantes e
emblemáticos da teoria de finanças, economia, macroeconomia e microeconomia,
começam a abordar essa evolução a partir dos anos 1950, por onde eles marcam
como “revolução em finanças”, embora os estudos da área começam a ser descrita
nos anos 1920, principalmente antes da quebra da bolsa de 1929, Costa (2008)
diz que esse período foi caracterizado pela expansão gerada na revolução
industrial e passando pela grande crise econômica de 1929 e pela reconstrução
dos mercados após a segunda guerra mundial. Ele ainda fala do ápice econômico
americano, onde suas empresas precisavam de capital para expandir onde se
desenvolveu o período da preocupação com a estrutura de capital da empresa,
Famá, Cioffi e Coelho (2008) chamam esse período de finanças antigas, o período
que os autores começam sua abordagem é da década de 1950, descrito por alguns
autores como Famá, Cioffi e Coelho (2008), Castro Junior (2002) e Bernstein
(2008) que também são citados pelos autores como “Finanças modernas”. Os
autores realmente fazem um bom trabalho definindo essa parte da história, o
embasamento teórico é forte e consolidado com outros estudiosos da área, como
McLean e Jones (2007), Mramor e
Lonèarski (2002), (DONALDSON, 1961), Gordon (1959) e Lintner (1956), o caminho
que eles seguiram é interessante, pois demonstrando mais as questões de
interações financeiras e mudanças nos mercados de capitais, a abordagem
tradicional pré década de 1950 é como os autores exemplificam “em grande parte,
descritiva e detalhada no conteúdo institucional”, tinham poucas generalizações e, com objetivo
de ser importante na aplicação pratica em períodos longos de tempo, na
abordagem tradicional a política de dividendos estava muito clara e simples, as
companhias deveriam distribuir os lucros da melhor forma possível, na forma de
dividendos em dinheiro, desde que os investidores prefiram dividendos a ganhos
futuros de capital, os autores embasam o posicionamento de Gordon (1959), os
investidores acreditam que os ganhos futuros de capital são mais incertos que
os dividendos, tendo, portanto, um valor mais baixo, o que demonstra a falta de
dinamismo e audácia da época. O começo da mudança do paradigma tradicional tem
como base as contribuições feitas por Markowitz com sua publicação sobre a
diversificação de portfólio em 1952. Bernstein (1997) classifica a metodologia
de Markowitz como uma síntese das Teorias das Probabilidades, da Amostragem, da
Curva de Sino e Dispersão ao Redor da Média, da Regressão à Média e da Teoria
de Utilidade. O principal objetivo de Markowitz com a Teoria do Portfólio foi
utilizar a noção de risco para formar carteiras para investidores que
considerem o retorno como algo desejável e a variância do retorno como algo
indesejável, os autores colocam do lado de Markowitz outros autores que mudaram
o modo de pensar finanças como Kendall (1953), Modigliani e Miller (1958)
e Sharpe (1964), McGoun (1992) afirma que a
publicação dos artigos Markowitz (1952) e de Modigliani e Miller (1958) são fundamentais
para essa mudança de paradigma, tendo provocado uma revolução acadêmica na
economia financeira. Passou-se a utilizar processos de simplificação,
matematização e modelagem, tendo um profundo impacto no modo como os
economistas financeiros têm procedido até hoje. Markowitz ganhou o prêmio Nobel
de economia em 1990 por seu trabalho. A modernização dos estudos em finanças
passa pela busca da funcionalidade de ditar explicações lógicas e racionais a
sociedade, os autores do texto colocam esse ponto de forma clara quando
demonstram a evolução nos estudos e quando falam sobre como “A ciência provê a
base para estruturar a ordem do mundo social, semelhante à estrutura e ordem do
mundo natural. São usados os métodos das ciências naturais para gerar
explicações do mundo social” e utilizam o positivismo de Dukheim para
demonstrar o ponto de vista, para Dukheim “um todo
não é idêntico à soma das partes que o constituem; é algo de
diferente cujas propriedades diferem das que revelam as partes de que é composto”
(Durkheim, 1978b, p. 139) o que corrobora com a fala dos autores sobre
os funcionalistas, “as propriedades do conjunto são determinadas pelas
propriedades de suas unidades”.
A
evolução da teoria financeira parte de estudos da análise do comportamento de
preços de ativos e de como se comporta aleatoriamente sendo não sendo mais
previsível Fama (1965), aliado a estudos de diversificação da carteira de
ativos e de como as ações são precificadas em relação ao seu risco. Essa teoria
denominada de Capital Asset Price Model (CAPM), tem forte relação com a teoria
do portfólio de Markowitz, pois formulada por um de seus estudantes, William
Sharpe, Megliorini e Vallim (2009) a descrevem como uma simplificação da Teoria
do Portfólio, ela mostra que as taxas de retorno em equilíbrio dos ativos de
risco são uma função de suas covariâncias com a carteira de mercado. Eles ainda
falam que em mercados como o brasileiro onde os investidos são diversificados e
os mercados interligados o CAPM é amplamente utilizado.
Os
autores falam bastante sobre todas as teorias abordadas nessa época o que
demonstra o amplo desenvolvimento acadêmico do período onde realmente se
consolidou o desenvolvimento acadêmico financeiro.
Percebe-se
como os autores demarcam os pontos chave para o desenvolvimento da teoria de
finanças, as chaves ficam bem explicativas e de forma que todos possam
compreender que o caminho para a evolução foi dado pelo desenvolvimento das
finanças como disciplina, separando-se da economia e tendo maior autonomia e
protagonismo na academia, depois a legitimidade e consolidação dos mercados,
com regras mais claras e transparência nas negociações, e por fim da separação
da visão do mercado financeiro como um jogo de azar, onde os investimentos tem
fundamentos e não seguem os dados para se obter resultados.
O
texto tem uma pequena parte confusa na seção sobre a Pós-modernidade, os
autores questionam sobre a mudança no paradigma descritivo de finanças pelo
performático e dentro outros utilizam Mackenzie (2001) e Austin (1990) para
sustentar seus pontos de vista, mas fica claro que aliar as métricas
matemáticas a teoria de finanças faz com que a questão performática se
desenvolva, pois principalmente com a tecnologia se obtém uma facilidade de
medir, avaliar e buscar otimização de investimentos e do próprio mercado. Para
Mellagi e Ishikawa (2012, p. 114), “qualquer sistema financeiro está em
constante mudança, junto com a evolução da própria economia e seus ciclos”, os
autores utilizam Merton (1992, p.470) para fortalecerem essa tese que dá mais
clareza.
O
desenvolvimento do campo de finanças chega nas finanças comportamentais, os
autores falam bastante de Kahneman e Tversky
mas acho que deixaram um nome importante de fora, Herbert Simon foi um dos
percursores no processo de tomada de decisão e estudo do comportamento humano,
para Simon (1959), a ideia subjacente ao conceito de maximização é de um
comportamento de equilíbrio de um organismo com perfeita adaptação, que depende
apenas de seu objetivo. Mas se o ambiente apresentar alterações, se existirem
múltiplos objetivos ou, ainda, se o organismo for afligido por conflitos
internos, o conceito de maximização não se mostra promissor, e claro que os
autores detalham mais sobre o assunto e colocam a discussão mais densa, é interessante
como eles fazem isso, principalmente do confronto entre finanças modernas
continua e finanças comportamentais, mesmo que o texto seja escrito em 2009,
acho que deixa de lado uma técnica importante, pois podemos utilizar
inteligência artificial para desenvolver e melhorar tanto o campo de finanças
comportamentais como de finanças modernas, estudos como o de Trippi e Tuban (1992),
no geral o texto é interessante, consegue-se ver a contribuição dos autores e
de como é feito um belo desenvolvimento histórico da área de finanças, acho o
texto fácil de ler e contribui principalmente para estudiosos pela área e
entusiastas de finanças.
REFERÊNCIAS
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